Estudo de comunicação de ciência: O que ocorre em seguida? Experiências na University of the West of England (UWE)

Por Clare Wilkinson

Nos últimos anos vem acontecendo uma explosão de opções para estudantes que estejam interessados em desenvolver suas habilidades de comunicação de ciência, mas será que você precisa de um curso em comunicação de ciência? Desde Dance seu doutorado, passando por um breve curso de verão sobre comunicação de ciência, até estudar um módulo dentro de estudos universitários, há todos os tipos de caminhos que podem levar um estudante a uma carreira de comunicação de ciência. Como poderá ser essa carreira?

AUnidade de Comunicação de Ciência na University of the West of England (UWE), Bristol, oferece treinamento dedicado de pós-graduação em comunicação de ciência há mais de 10 anos e desenvolvemos um estreito conhecimento operacional das necessidades de nosso setor, bem como uma compreensão dos cargos em que nossos estudantes acabam trabalhando depois de se formar em nosso programa.

Em nível de pós-graduação, trabalhamos com estudantes de várias formas. A maioria deles ingressa no programa MSc Science Communication como estudantes de período integral ou parcial. O programa de maior duração, o MSc Science Communication, desenvolveu uma excelente reputação por sua combinação de teoria e prática, o que significa que continua a atrair tanto os estudantes que acabaram de concluir um curso universitário e decidiram que seu futuro está na comunicação de ciência, bem como estudantes que já estão trabalhando em um campo afim por algum tempo, mas estão procurando fazer uma transição de carreira ou estabelecer firmemente uma qualificação mais formal.

O curso MSc abrange a comunicação de ciência de várias perspectivas diferentes. Nossos módulos mais teóricos, como “Ciência e Sociedade”, incentivam os estudantes a considerar criticamente a literatura e as abordagens teóricas, as quais eles talvez nunca antes tenham encontrado. Os estudantes podem esperar examinar obras importantes da literatura de estudos de ciência e tecnologia, teoria educacional sobre como as pessoas aprendem em ambientes informais, e considerar o papel da prática reflexiva na comunicação de ciência: estas podem ser questões a serem consideradas para muitos de nossos estudantes, incentivando-os a reconsiderar sua relação com a ciência e sua educação científica prévia.

Porém, deixar os estudantes no âmbito teórico não é suficiente. No programa, retomamos este aprendizado de volta para nossa própria prática, perguntando como ele poderia ser aplicado ao desenvolvimento de um evento de engajamento público. O que ele nos diz sobre algumas das barreiras na comunicação com os elaboradores de políticas? Os estudantes recebem apoio para desenvolver um bom lastro de conhecimento das teorias e disciplinas que informam o campo da comunicação de ciência, começando, ao mesmo tempo, a integrar isso em sua própria prática.

Também há uma série de módulos práticos. Um exemplo é o “Ciência em Espaços Públicos”. Nele,  os estudantes são reunidos com um pesquisador da UWE, Bristol para desenvolver uma atividade publicamente focada em torno do trabalho científico mais recente.

Essa pesquisa pode ser sobre tópicos como poluição do ar ou ciência das plantas, biologia marítima ou o tratamento mais recente para um problema de saúde em especial, mas os estudantes precisam considerar como lidar com assuntos difíceis e densos, desenvolver uma atividade que vá engajar as pessoas e transmitir a ciência por trás do assunto com exatidão em questão de minutos. Depois de terem desenvolvido essas atividades, os estudantes têm a oportunidade de testá-las em pessoas reais! Como parte de um mini festival de ciências realizado durante um dia aberto na UWE, Bristol, os estudantes aprendem, em poucos momentos, tanto sobre a forma de fazer apresentações publicamente quanto poderiam aprender em horas de prática dentro de um ambiente de sala de aula.

Perto do final do programa, os estudantes desenvolvem seu próprio projeto MSc. Queremos fundamentar essa oportunidade em cenários da vida real, tratando, tanto quanto possível, das principais questões enfrentadas pelo setor de comunicação de ciência. Os estudantes têm a oportunidade de elaborar suas próprias ideias pessoais. Ao longo dos anos, isso levou a uma vasta gama de exemplos, desde projetos sobre revistas em quadrinhos, teatro e jogos de computador, como veículos para mídias sociais, até exames do papel do “impacto” na comunicação de ciência, ou estudos de uma variedade de tópicos científicos na mídia. Neste ano, um estudante desenvolveu um projeto que inclui uma caminhada de 300 milhas ao longo do litoral da Cornualha,  examinando o papel da mídia social e digital ao longo do caminho.

Além da oportunidade de desenvolver uma ideia pessoal, os estudantes também têm a oportunidade de estabelecer parcerias com uma organização no campo. Como o programa começou há quinze anos, já tivemos mais de 150 estudantes trabalhando em projetos com nossa unidade e, em 2009, introduzimos uma oportunidade específica para estudantes realizarem seus projetos em parceria com uma organização externa. Isso resultou em projetos colaborativos com organizações e órgãos de caridade incluindo We The Curious, (Nós, os curiosos), o Fundo de Preservação da Vida Selvagem DurrellSaúde Pública Inglaterra, e a Associação Científica Britânica, para citar apenas alguns.

 “No meu projeto, estou analisando o Fundo de Preservação da Vida Selvagem de Durrell, uma das maiores instituições internacionais de caridade, e estratégias de mídia social do Facebook, Twitter e Instagram, tentando entender como as audiências nesses sites percebem os posts referentes à preservação… [Ele] me deu uma oportunidade única de conquistar algum conhecimento sobre preservação com seus profissionais ativos, contribuindo assim para esse campo, mesmo que seja apenas na forma de pesquisa.” Anastásia, MSc 2018

Anastásia, a aluna citada acima, ingressou no programa a partir de sua residência na Rússia. O programa MSc atrai um alto número de estudantes internacionais e, no passado, tivemos indivíduos que se matricularam de países incluindo Grécia, Islândia, Tailândia e Austrália, bem como um bom número de estudantes das Américas do Norte e do Sul. Muitos buscam treinamento em comunicação de ciência fora de seus próprios países com o objetivo de levar de volta suas habilidades, compreensão e conscientização do setor internacional.

Por causa disso, agora temos um número de “embaixadores de comunicação de ciência da UWE Bristol no mundo todo. Os dados mais recentes que coletamos sobre nossos formandos em 2016 apontaram que 21% de nossos formandos naquele momento estavam trabalhando fora do Reino Unido, em países como Nova Zelândia, México, Vietnã, Alemanha e Itália.

O Reino Unido ainda é a principal nação em comunicação de ciência… Eu decidi entrar para a UWE porque a Unidade de Comunicação de Ciência está muito bem estabelecida, com publicações que eu já havia lido antes de entrar no curso. Além disso, eu encontrei alguns dos palestrantes em eventos públicos fora do campus que me deram a confiança de escolher o curso” Shen, MSc, 2012.

Enquanto estão conosco, todos os nossos estudantes se beneficiam por aprender sobre o principal pensamento a respeito de comunicação de ciência, tanto aqui no Reino Unido como internacionalmente, mas também procuramos construir em cima das próprias experiências pessoais deles, suas culturas e históricos para garantir que a compreensão que estão desenvolvendo é relevante independentemente de onde eles possam estar vivendo ao fim do programa.

Isso nos traz de volta ao que os estudantes vão fazer em seguida. Quais são as opções para carreiras em comunicação de ciência?

Em 2016 realizamos pesquisa mais detalhada  sobre nossos formandos e suas carreiras naquele momento. Constatamos que 83% deles sentiam que sua qualificação era o elemento mais importante necessário para seu trabalho e 81% deles agora estavam trabalhando diretamente em comunicação de ciência. Além desses 81%, um número bastante alto de estudantes acabam trabalhando em carreiras alinhadas. 18% trabalham em campos relacionados, como ensino de ciência, fazendo doutorado ou trabalhando em indústrias relacionadas, como na linha farmacêutica.

Dos 81% que trabalham diretamente em comunicação da ciência, há uma variedade de organizações. Muitos trabalham em conselhos de pesquisa, associações profissionais ou no campo da caridade, com mais de um quinto de nossos formandos também trabalhando em centros de ciências, museus ou zoológicos. Alguns estudantes trabalham em ambientes universitários, e apenas um pouco mais de 20% trabalham como comunicadores de ciência autônomos ou na mídia, como escritores, editores ou apresentadores. Além disso, notamos que muitos de nossos estudantes que estudaram conosco há cinco ou dez anos estavam sendo promovidos e progredindo, com 31% de nossos formandos trabalhando agora em funções seniores, estratégicas ou de gerência.

Tudo isso configura um quadro positivo de empregabilidade depois de um programa de comunicação de ciência, mas, além de trabalhar com estudantes talentosos e comprometidos, há algumas outras coisas que instauramos para tentar dar a eles um impulso no mercado de trabalho.

A primeira delas é utilizarmos uma equipe de especialistas acadêmicos que representam algumas das principais organizações e empregadores trabalhando no campo de comunicação de ciência no momento. Não apenas esses especialistas acadêmicos oferecem ensino e aconselhamento contemporâneo através de workshops e palestras, mas também oferecem uma oportunidade para os estudantes fazerem perguntas sobre como desenvolver sua careira e como começar a construir suas redes profissionais desde as primeiras semanas do curso.

Também oferecemos colocações dedicadas na forma de “laboratórios de aprendizado” com uma vasta gama de organizações relevantes. Por exemplo, estudantes que estão interessados em trabalhar na mídia têm uma oportunidade de se candidatar para trabalhar na revista BBC Focus. Também utilizamos o site comunitário online de estudantes, e um grupo de diplomados no Linkedin para promover estágios, colocações e oportunidades de trabalho para estudantes e formandos desde o primeiro dia do programa até quando desejarem ficar em contato conosco.

E o aprendizado não termina quando você conclui nossos programas. Temos agora uma gama de ex- estudantes que revisitam, eles mesmos, o curso como especialistas acadêmicos, bem como estudantes que estabeleceram seus próprios projetos e grupos de comunicação de ciência, desejando dar à geração seguinte de estudantes uma ajuda, como o Rising Ape, uma equipe local de comunicação de ciência em Bristol.

Logicamente, muitas pessoas também vêm para a comunicação de ciência depois de terem suas careiras totalmente desenvolvidas, quando estão buscando uma mudança ou porque são pesquisadores ou comunicadores de ciência que talvez entraram nesse campo, mas ainda precisam passar por treinamento profissional dedicado a suas atividades de comunicação.

Nesse caso, pode ser relevante o Certificado de pós-graduação em comunicação de ciência prática. Tipicamente, os estudantes nesse programa tendem a ser pesquisadores praticantes que vêm comunicando sua própria pesquisa junto com seu “emprego diário” e estão buscando desenvolver ainda mais essa experiência. Seguindo as mesmas linhas, também temos vários estudantes de doutorado, de uma vasta gama de áreas na UWE, que estão cursando um ou dois de nossos módulos de comunicação de ciência como parte de seu programa de doutorado. E, por fim, oferecemos cursos totalmente online, bem como cursos de curta duração, para indivíduos que desejarem desenvolver suas habilidades de comunicação de ciência onde quer que estejam baseados no mundo. É fantástico ver pesquisadores em início de carreira identificando um papel para comunicação e engajamento e incorporando isso em suas pesquisas desde o princípio.

Então, o que vem a seguir para os formandos em comunicação de ciência? À medida que o setor continua a crescer, vemos engajamento público cada vez mais incorporado na pesquisa e, à medida que continua o potencial para novos (e às vezes desafiadores) espaços digitais e de mídia social, prevemos necessidade constante de comunicadores em contextos e ambientes sociais ricos e diversos. Treinamento e educação é apenas uma parte do kit de ferramentas de comunicadores de ciência, mas, para alguns estudantes, serão sempre valiosos. Tudo que resta a fazer é encontrar a melhor oportunidade de treinamento em comunicação de ciência para você.

Clare Wilkinson é professora associada e co-diretora da Unidade de Comunicação Científica da UWE Bristol. Conduziu uma série de pesquisas sobre ciência, saúde e mídia, e foi coautora do livro Creative research communication: theory and practice.