Cátedras Unesco e os desafios dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

Por Salete Cecilia de Souza

A obra Cátedras Unesco e os desafios dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável,  publicada neste ano, é organizada por Geraldo Caliman, doutor em educação pela Università Pontificia Salesiana de Roma e professor da Universidade Católica de Brasília, onde já atuou também como pró-reitor de pós-graduação e pesquisa e onde ensina no programa de mestrado e doutorado em educação e coordena a cátedra Unesco de Juventude, Educação e Sociedade.

Na publicação, em formato eletrônico, gratuita e que foi produzida pela Cátedra da Unesco Brasil, temos à disposição uma coletânea estruturada em seis capítulos, cada qual com uma temática produzida por um autor, todos estudiosos, pesquisadores experientes em educação. O prefácio é de autoria de Fabio Soares Eon.

Logo de entrada, são apresentados os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e seu alinhamento com a área da educação que a Unesco construiu com a Agenda de Educação 2030, englobada pelo ODS 4 (educação de qualidade) como também a criação, em 1981, do programa de cátedras Unesco (Unitwin), importante aliado dessa organização.

O capítulo 1, intitulado “Cátedras e redes Unesco: instrumentos para uma cooperação interuniversitária solidária”, foi produzido por Marco Antonio Rodrigues Dias, professor aposentado da UnB. Em 12 itens, desdobrados em 61 páginas (maior capítulo da obra) é apresentado ao leitor o cenário da educação, a começar pelo o que o autor chama de “longa introdução“, com percentuais de crescimento da educação superior desde a década de 70 do século XX, as perspectivas de crescimento em percentuais até 2050, e alerta para os índices de crescimento da educação online e suas tendências comerciais:

“A expansão quantitativa é fabulosa e ela tende a crescer. O fundamental então é não deixar de considerar que o ensino superior e a pesquisa são essenciais para um país se tornar autônomo e independente e que, hoje, contraditoriamente, há uma tendência forte de se transformar a educação em comércio, em produto vendável”.

Também são tratados os impactos positivos da democratização da educação superior e sua produção de conhecimento. O item 2 apresenta os estudos da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e, a partir deles, a trajetória da cátedra Unesco a favor do ensino superior como um bem público (missão), diferente de setor público (estatuto).

A obra aborda também as manipulações, sofismas e subterfúgios que circundam tal cenário, como os processos estão interconectados e todas as relações internacionais envolvidas na discussão e seus impactos na educação. Talvez por um equívoco gráfico, vai-se direto do item 4 ao 6, que aborda o sistema internacional de credenciamento ou acreditação, trazendo relato do movimento internacional passando pela Conferência Geral da Unesco em 2005.

Na sequência, apresenta-se a abordagem sobre reconhecimento e equivalência de diplomas, um marco internacional da educação sem fronteiras. Outro processo em andamento, que se vê no item 8, com impacto direto sobre as instituições e programas de planos de cooperação, é o Processo de Bolonha, que busca reformar os sistemas de ensino superior nos países europeus de forma coerente, ao mesmo tempo em que consolida a implantação de um sistema único europeu mais competitivo.

Não são deixadas de lado as críticas à criação dos rankings acadêmicos, dispostas no item 9. No item 10, a abordagem é para os massive open online courses (MOOCs), ou seja, os cursos massivos abertos e seus impactos.

O volume traz também apontamentos sobre internacionalização e cooperação, duas estratégias que todas as universidades precisam incorporar e materializar. Aqui o exemplo é da República Popular da China. Para finalizar o capítulo, o autor apresenta a origem do programa Unitwin: cátedras Unesco. Leitura longa, mas necessária.

“A educação na prevenção da violência e difusão de culturas de paz, cátedra Unesco de Juventude, Educação e Sociedade”, tema do capítulo II e escrito pelos autores Geraldo Caliman e Cândido Alberto Gomes da Costa, ambos doutores em educação, traz a público a experiência exitosa de institucionalização no âmbito da Universidade Católica de Brasília (UCB), como um espaço de promoção e fortalecimento das discussões teórico-metodológicas em torno do tema das juventudes. Leitura importante para educadores, gestores e atores sociais.

O capítulo III, da autora Nina Ranieri, docente de direito, relata a experiência de mais de uma década da primeira cátedra Unesco de direito à educação do país, a partir da criação na Faculdade de Direito da USP, com o objetivo de promover estudos, pesquisas e doutrina na área do direito à educação no sistema jurídico brasileiro e no direito internacional.

O capítulo IV apresenta a formação de professores como política de Estado e investigação educativa na implementação dos ODS e é de autoria de Romilson Martins Siqueira, doutor em educação. O assunto é desafiante: discutir a importância da formação de professores como uma das estratégias para o alcance dos ODSEm foco, a educação básica.

A questão da leitura, essencial ao homem, é tratada no capítulo V, de autoria de Eliana Yunes, coordenadora da cátedra Unesco de Leitura (PUC-Rio). Democrática, inclusiva, assegura ao sujeito o direito de aprender e apreender pela leitura. O texto perpassa do embasamento teórico à experiência do Programa Nacional de Incentivo à Leitura (Proler), Rede Latino-Americana de Pesquisadores e Promotores de Leitura (Reler) e todas as incursões da cátedra na seara da leitura.

O último capítulo apresenta as reflexões sobre desafios sociais emergentes sob a ótica dos ODS por meio do programa de responsabilidade “IESB em ação”, do Centro Universitário IESB, onde a autora, Eda Coutinho Barbosa Machado, é reitora.

É uma obra fortemente pautada em pesquisa, cooperação, internacionalização e alinhamento global, que agrega e, mais, ativa em cada educador, pesquisador, estudante e cidadão o verbo “esperançar”, ou seja, continuar, onde se está, seu lócus e, dessa forma, retroalimentar a cadeia.

No caso da educação pública inclusiva, por exemplo, mesmo com as fragilidades no cenário de investimentos, essa esperança é válida, pois nunca tivemos um cenário tão favorável de meios de tecnologias de comunicação para troca e socialização dos resultados de trabalho pelo ensino, pesquisa e extensão (tríade das universidades), centros de pesquisas e organizações. Se há dúvidas de que os ODS podem ser alcançados, obras como essa nos dão esperança que sim.

Cátedras Unesco e os desafios dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável [clique aqui para baixar o PDF, 154 páginas]
 Organizador: Geraldo Caliman
 Brasília: Cátedra Unesco de Juventude, Educação e Sociedade, 2019

Salete Cecilia de Souza é bibliotecária, mestre em engenharia de produção e coordenadora institucional do programa de promoção de acessibilidade da Unisul.