Violência em verde e amarelo: o terrorismo da extrema-direita

Por Airton de Farias

Este artigo foi publicado originalmente em História da Ditadura em 20 de janeiro de 2023 e aqui reproduzido com autorização do autor

Créditos da imagem destacada: Corpo do sargento Guilherme Pereira do Rosário, morto após a explosão de uma das bombas do Atentado do Riocentro em 1981. Autor desconhecido. Fonte: Correio do Brasil. Wikimedia Commons.

Militantes bolsonaristas invadiram o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Palácio do Planalto. Imagem: Jefferson Rudy/ Agência Senado. Wikimedia Commons.
 

Uma conjuntura de mudança política, anticomunismo extremado, difusão de teorias conspiratórias, agressões físicas, ameaças de bomba, explosões, destruição do patrimônio público e privado, pânico na sociedade, leniência das autoridades responsáveis pela manutenção da ordem, envolvimento de segmentos do aparato de segurança, incertezas quanto ao futuro.

As palavras acima poderiam ser perfeitamente uma descrição do pano de fundo dos atos violentos ocorridos em Brasília a 8 de janeiro de 2023, quando extremistas de direita, ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro, provocaram um grande quebra-quebra na intenção de derrubar do poder o novo e recém-empossado mandatário brasileiro, Luís Inácio Lula da Silva. Pelo que se depreende das falas à imprensa e das mensagens e vídeos nas redes sociais, muitas das pessoas envolvidas na tentativa de golpe de Estado se entendiam como patriotas, nacionalistas, portadoras de valores religiosos e morais superiores. Em um jargão famoso, seriam “homens e mulheres de bem” que decidiram salvar o Brasil do “comunismo” por todos os meios possíveis – apelando, inclusive, para a violência –, rejeitando o resultado das urnas. Tais pessoas exemplificam bem os imaginários e as identidades de muitos dos componentes do conservadorismo que, embora tenha raízes antigas, cresceu de forma expressiva no país na última década.

Contudo, o parágrafo inicial deste texto refere-se à pesquisa desenvolvida por mim há três anos no âmbito de um estágio de pós-doutorado na Universidade Federal do Ceará (UFC), cuja temática são as ações dos grupos terroristas de extrema-direita que agiram no Brasil entre final dos anos 1970 e o começo dos 1980, intentando barrar a distensão/transição da ditadura civil-militar. Longe de imaginar que a história se repita ou que ambos os processos sociais e políticos sejam idênticos, é difícil deixar de perceber semelhanças nas duas conjunturas no tocante ao modo pelo qual extremistas de direita agem e concebem o mundo – principalmente a crença acerca de uma “iminente ameaça vermelha” pairando sobre a sociedade brasileira. Como bem disse o professor Rodrigo Patto Sá Motta (2002), o anticomunismo é um dos elementos mais importantes da cultura política do Brasil, estando presente em vários momentos de nossa história.

Não podemos achar, porém, que todos os anticomunistas pensam da mesma forma ou que recorram ao uso da violência para combater a “hidra vermelha”: há uma variedade de posturas e de ações entre eles. Em contrapartida, momentos de tensão política e de embate servem para que as diversas tendências se aproximem, se articulem, façam alianças táticas e até compartilhem os mesmos espaços na luta contra o inimigo comum. Não raro, os extremistas anticomunistas superdimensionam o real, distorcem elementos dos processos políticos e sociais para justificar suas crenças. Daí o apego que apresentam às teorias conspiratórias e à crença em planos secretos dos “vermelhos” para tomar o poder, ressignificando as representações já estabelecidas conforme os acontecimentos e momentos históricos.
Em guarda contra o perigo comunista

Se em 2023 muita gente acredita que a eleição de Lula significaria a chegada ao poder dos marxistas – ou, no mínimo, a liberdade de ação para os comunistas –, algo parecido se deu nos anos finais da ditadura civil-militar. Derrotada a esquerda armada e com uma economia em extraordinária expansão (o famoso “milagre econômico”), o grupo militar comumente chamado de “moderado” – tendo à frente o presidente-general Ernesto Geisel e seu chefe da Casa Civil, general Golbery de Couto e Silva – iniciou uma abertura política “lenta, gradual e segura” do regime a partir de meados da década de 1970.

No entendimento de vários pesquisadores (D´ARAUJO, 1995; MATHIAS, 1995; KUCINSKI, 2001; CHIRIO, 2012; CARVALHO, 2019), tratava-se de uma institucionalização da ditadura, ou seja, da criação de uma espécie de Estado de Direito autoritário, sem os “excessos” possibilitados pelo Ato Institucional nº 5. O regime se distenderia, mas a influência e a tutela das Forças Armadas sobre a sociedade seriam mantidas. O projeto acabou virando processo político e social, tomando rumos distintos do que os militares desejavam inicialmente: para além de uma mera institucionalização do arbítrio, inúmeros atores sociais se rearticularam (especialmente, a partir de 1977) e passaram a defender a anistia, a libertação dos presos políticos, uma nova Constituição, a melhoria das condições de vida da população – enfim, a democratização do Brasil, ainda que apresentassem vários entendimentos sobre o que seria exatamente “democracia”.

Foi um processo tenso, com idas e vindas, hesitações e ousadia, sonhos de maiores mudanças sociais e medo de retrocessos autoritários. Ao contrário do que muitos pensam, a chamada “distensão lenta, gradual e segura” – chamada de “abertura democrática” a partir do governo do general João Figueiredo (1979-85) – foi muito delicada. Por mais que os militares tentassem controlar o processo garantindo a “ordem” e evitando punições pelos crimes praticados durante anos, tratava-se de um “jogo jogado”, ante as pressões dos atores políticos e sociais. Isso sem falar das próprias contradições do processo, de desfecho totalmente imprevisível e que requereu muita coragem das pessoas que foram às ruas e mesmo dos indivíduos que atuaram nas instituições, como no Congresso Nacional (REIS, 2014).

Um dos fatores que elevaram a tensão política naqueles anos confusos foi a série de ameaças e atentados à bomba praticados por indivíduos e grupos de extrema-direita. Embora já viessem acontecendo desde, pelo menos, meados da década de 1970, foi sobretudo entre o final de 1979 e início de 1981 que se intensificaram as ações terroristas de grupos como a Falange Pátria Nova (FPN), o Comando Delta, o Movimento Anticomunista (MAC), o Comando de Caça aos Comunistas (CCC), a Vanguarda de Caça aos Comunistas (VCC), o Movimento de Renovação Nazista (MRN), entre outros.

Manipulações (2016). Obra de Rafael Pagatini. Xilogravura sobre papel.
 

Contrários à distensão, os terroristas visavam desgastar e desestabilizar o grupo militar “moderado” do governo, criando uma situação política de caos e medo que levasse a um novo fechamento do regime. Além disso, havia uma pretensão de intimidar e agredir lideranças e entidades que se engajavam nas críticas à ditadura e defendiam a democratização do país – daí os ataques e ameaças a jornalistas, lideranças católicas, sindicalistas e a sedes de instituições como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e a Câmara Municipal do Rio de Janeiro.

Tais grupos, em geral, contavam com a presença de extremistas alocados no Estado ditatorial: indivíduos que integravam a chamada “comunidade de informação e segurança”, ou seja, militares “linha dura”, policiais e agentes do aparato repressor (FICO, 2001). Salvo algumas possíveis conexões entre os extremistas de alguns dos estados mais dinâmicos politicamente no processo de abertura (como Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo), tais grupos não apresentavam uma estrutura única ou nacional. Muito provavelmente os atos terroristas praticados em uma área acabavam motivando extremistas de locais diferentes do país sem que houvesse contatos ou conexões entre eles. Em virtude disso, a pesquisa desenvolvida por mim colheu informações sobre ameaças e atentados em diversas cidades brasileiras, de Belém a Porto Alegre, passando por Salvador, Recife, Brasília e Rio Branco, entre tantas outras.

Observe-se que ligações anônimas sobre bombas – e mesmo trotes feitos por indivíduos que não pertenciam aos grupos extremistas – geravam pânico na sociedade, mudando a rotina da população, gerando muitos incômodos, irritação e prejuízos (financeiros, inclusive) às atividades do dia a dia: eram prédios inteiros evacuados apressadamente; alunos retirados de salas de aula e pais em polvorosa; aglomerações de pessoas assustadas nas ruas sem saber bem o que fazer enquanto esperavam a chegada da polícia e dos peritos; multidões se formando para comentar o que se passava no local e os últimos atentados, difundindo, assim, ainda mais o medo dos ataques na coletividade; carros da polícia, com sirenes ligadas, se deslocando em alta velocidade para os locais da possível bomba; policiais com equipamentos vasculhando salas, corredores e banheiros; a tensão da situação até o alívio de que tudo não passava de um trote ou de uma falsa ameaça, embora com a angústia persistente de que poderia ter sido uma bomba e que a onda de atentados continuava, pois nenhum dos terroristas era capturado pelo governo.

Entretanto, nem todos os extremistas eram integrantes do aparato repressor da ditadura. O foco da pesquisa no pós-doutorado, inclusive, foi um grupo composto apenas por jovens civis da classe média de Fortaleza: o Movimento Anticomunista. Esse MAC “cearense” – existiram outros MACs atuando pelo país – promoveu inúmeros atentados contra bancas de jornais, igrejas, praças e o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFC no segundo semestre de 1980. O grupo pretendia expandir seu raio de ação para Pernambuco e Paraíba, mas alguns de seus integrantes acabaram detidos por acaso em uma simples blitz da Polícia Militar paraibana em meados de novembro de 1980. Os jovens confessaram, então, suas motivações políticas, o que levou o caso a ser investigado pela Polícia Federal.

Em poucas semanas, os integrantes do MAC “cearense” acabaram presos e apresentados à imprensa, até como forma do governo mostrar resultados quanto à apuração dos atentados e mostrar que não “acobertava terroristas”, como denunciava a oposição. Os jovens do MAC “cearense” foram, ao que consta, os únicos terroristas de direita identificados no Brasil quando da onda terrorista durante a distensão/abertura. Como sabemos, os demais terroristas ficaram impunes e sequer foram identificados, salvo pouquíssimas exceções, como o capitão Wilson Luís Chaves Machado e o sargento paraquedista Guilherme Pereira do Rosário – que pretendiam colocar uma bomba no Riocentro, um centro de eventos do Rio Janeiro, durante um show pelo 1º de Maio – e o ex-delegado Cláudio Guerra, que confessou seu envolvimento em ações extremistas por ocasião da abertura (MEDEIROS; NETTO, 2012).

Entrevista de Cláudio Guerra, ex-delegado do DOPS, ao jornalista Alberto Dines no programa Observatório da Imprensa (TV Brasil), exibida em junho de 2012.

A historiografia destaca que os terroristas temiam, com a abertura, serem punidos pelos crimes que praticaram ao longo do regime e, especialmente, perderem espaços de poder, ganhos financeiros e influência política, uma vez que a democratização implicaria em desmontar ou ao menos reduzir o aparato de repressão. A presença do MAC “cearense” levou-me a concluir que essa explicação, embora importante, não abarcaria toda as motivações dos extremistas, visto que os integrantes do grupo eram civis, sem laços maiores ou espaços de poder dentro da ditadura. Entendo que as representações anticomunistas daqueles indivíduos tiveram igual relevância para os atentados, como já abordara em sua pesquisa a historiadora Mariana Joffily (2013).

Os integrantes do MAC, do Comando Delta, da Falange Pátria Nova, entre outros, entendiam que a abertura criaria espaços para a atuação dos comunistas, os quais agiriam para a implantação do comunismo no Brasil. É sintomático que a onda de atentados tenha se intensificado exatamente em fins de 1979 e em 1980, quando do regresso ao Brasil de exilados como Leonel Brizola, Miguel Arraes e Luís Carlos Prestes.

Na visão dos terroristas, as mobilizações populares contra a ditadura e a favor da democracia fariam parte dos estratagemas comunistas de se infiltrar silenciosamente na sociedade, agastar os governantes, desmontar o aparato de segurança e, a seguir, conquistar o poder institucional. A existência de um complô comunista por trás das mobilizações populares pela democracia no final dos anos 1970 era uma readequação do discurso corrente em grupos conservadores e militares acerca de uma suposta infiltração dos comunistas na sociedade por meio de discursos sedutores em prol de causas nobres. Tal imaginário anticomunista teve como um de seus marcos a chamada “Intentona” Comunista de 1935, à qual foram se mesclando elementos da Guerra Fria, como a Doutrina de Segurança Nacional (DSN) e a doutrina de guerra revolucionária (MOTTA, 2014). Como se percebe, quase tudo que pudesse atingir o ideário de mundo conservador tratar-se-ia de manobras espúrias dos “vermelhos”, apenas adequando alguns elementos do discurso anticomunista às peculiaridades do momento.

Comumente, os extremistas deixavam panfletos nos locais dos ataques, assumindo a autoria. Pelo que percebi, foi apenas quando os atentados provocaram vítimas – como a secretária Lyda Monteiro, morta na explosão da sede da OAB-RJ, em 27 de agosto de 1980 – que os terroristas passaram a responsabilizar as esquerdas pelos ataques. Também era comum que lançassem manifestos, os quais circulavam especialmente no meio militar e chegavam a ser publicados na imprensa da época, visto que a censura foi arrefecendo ao longo da abertura.

Instalações da OAB-RJ destruídas pela explosão de carta-bomba que vitimou Lyda Monteiro. Imagem: Aguinaldo Ramos/ CPDoc JB. Reprodução.
 

Vê-se nesses manifestos, com certa frequência, menções e exaltações às Forças Armadas – especialmente ao Exército. As instituições castrenses eram concebidas como guardiãs da sociedade, detentoras dos mais altos valores. Não custa lembrar que, dentro da lógica da Doutrina de Segurança Nacional, guiar e salvar o país do atraso econômico e da barbárie comunista seriam responsabilidades dos militares e de uma elite “preparada e esclarecida”. As Forças Armadas estariam na linha de frente do combate à “subversão” e na defesa da pátria. Nesse sentido, os extremistas ratificavam a condição de liderança da instituição militar em um momento em que enxergavam uma perigosa ameaça vermelha. A própria luta contra a distensão/abertura, no objetivo de conservar a estrutura política vigente sob o comando dos militares, já era um sinal de apreço pela instituição castrense.

Se as Forças Armadas eram enaltecidas, os terroristas não deixavam de dirigir críticas aos “falsos” militares que estavam agindo contra os “valores cívicos” e os “interesses da nação”. Em suas perspectivas, os setores “moderados” da caserna estariam facilitando a atuação dos comunistas e traindo a pátria com o processo de flexibilização do regime. Há nos textos dos agrupamentos várias insinuações contra as gestões de Geisel e Figueiredo e ataques duros a Golbery do Couto e Silva, que estaria “entregando” o Brasil ao comunismo internacional.

Bombas pela democracia

Apesar da adjetivação usada pela imprensa, pelos opositores do regime e pelo próprio governo militar, os extremistas recusavam a pecha de terroristas: entendiam a si mesmos como “pessoas comuns”, “homens do povo”, de princípios cristãos, fiéis à “Revolução de 64”, conscientes e descontentes com o governo e com a flexibilização do regime. Nos documentos que avaliei, em nenhum momento os extremistas externavam que fossem integrantes do aparato estatal ditatorial. Davam a entender que não apresentavam outros interesses a serem preservados, a não ser defender a pátria – suas causas, portanto, seriam idôneas, sinceras e puras. Ao contrário dos comunistas, que esconderiam suas ambições de tomada do poder, os grupos de extrema-direita seriam compostos por patriotas verdadeiros, homens que resolveram agir pelo bem da nação, “fazer história” combatendo concretamente o perigo vermelho, abraçando os riscos da clandestinidade e apelando para a violência na intenção de evitar “o pior”.

Os integrantes dos grupos de direita concebiam como legítimo o emprego da violência contra quem consideravam ser apoiador do comunismo. Nesse sentido, as ações violentas seriam uma reação, uma resposta, uma ação de resistência ante à ameaça vermelha que pairava sobre a sociedade. A argumentação evocava, pois, a lógica usada por militares e por grupos conservadores especialmente nos chamados “anos de chumbo” (1968-74), que defendiam que o recurso à tortura, à eliminação de adversários do regime e à luta contra a guerrilha seriam uma resposta as ações das esquerdas (TEIXEIRA, 2012).

Os extremistas viam a si mesmos e ao regime que defendiam como democráticos. Importa aqui entender como os grupos de direita concebiam a noção de democracia. Não era mera retórica ou demagogia o uso constante da palavra, como esclarece a historiadora Janaina Cordeiro. É necessário pensar o contexto da Guerra Fria, de como a bipolaridade característica do período instrumentalizou a concepção e o uso da ideia de democracia. Cordeiro, recorrendo à historiadora Jennifer M. Miller (apud CORDEIRO, 2021, p. 14), lembra que, entre muitos líderes políticos dos Estados Unidos das décadas de 1940 e 1950 – que viveram as experiências da Grande Depressão, da Segunda Guerra Mundial e dos embates com a União Soviética –, fomentou-se a crença de que ideologias como fascismo e comunismo representavam séria ameaça à democracia. A sobrevivência desta, assim, não dependeria apenas de aspectos formais – como eleições, instituições firmes e liberdade política – mas, igualmente, de uma cidadania “psicologicamente forte” e capaz de permanecer vigilante na defesa de valores democráticos. Em outras palavras, uma democracia “real” necessitava de estabilidade social, política, econômica e mental, para uma mobilização contínua contra ideologias “antidemocráticas”, perigosas e subversivas, ainda que à custa de outros direitos e liberdades. Democracia seria indissociável, portanto, do combate ao comunismo – ou ao que entendiam ser comunismo (RODEGHERO, 2002).

Como se percebe, não obstante a conjuntura política distinta, muitas dos elementos referidos acima estão presentes nos discursos e imaginários de pessoas de extrema-direita em nossa época, como ficou evidente no 8 de janeiro. Mesmo passados mais de 30 anos do fim da União Soviética e da debacle do socialismo real, o anticomunismo serve de catalizador para as movimentações de grupos conservadores e mesmo liberais, uma evidência de como está entranhado na cultura política do Brasil. Por mais que existam aproveitadores e toda sorte de demagogos nas multidões que pedem “intervenção militar” e gritam que “nossa bandeira jamais será vermelha”, há também “anticomunistas/golpistas sinceros”, pessoas que realmente acreditam que estão lutando por uma causa democrática e que o país estaria melhor em um regime de força.
 

Conforme visões distorcidas do mundo e teorias conspiratórias as mais mirabolantes, buscam, em redes sociais, grupos de aplicativos de comunicação e até em textos religiosos descontextualizados, subsídios e bases para justificar a depredação de prédios públicos, agressões e assassinatos de quem pensa ou “é diferente” e explosões de bombas. Muito além de um problema de instabilidade política ou de governabilidade para os novos gestores do país, as ações da extrema-direita se tornam um óbice para a continuidade da presente democracia brasileira, que, de forma parecida com o processo da abertura no início dos anos 80, vai se mantendo, aos trancos e barrancos. Se não fossem tão perigosos, tais elementos seriam dignos de pena.

Airton de Farias é doutor em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF), mestre em História pela Universidade Federal do Ceará (UFC), licenciado em História pela Universidade Estadual do Ceará (UECE) e bacharel em Direito pela UFC. Autor de livros didáticos, foi professor, por anos, de vários colégios e faculdades, bem como da rede pública do Ceará. Desde 2017, ministra aulas no Instituto Federal do Ceará (IFCE). Estuda a ditadura civil-militar, em particular, a luta armada das esquerdas. Entre 2021-2022, realizou estágio de pós-doutorado na UFC, pesquisando sobre a atuação de grupos de extrema-direita no processo de abertura do regime ditatorial.

Referências

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CHIRIO, Maud. A política nos quartéis: revoltas de oficiais na ditadura militar brasileira. Rio de Janeiro: Zahar, 2012.

D’ARAUJO, Maria Celina; SOARES, Gláucio Ary Dillon; e CASTRO, Celso. A volta aos quarteis: memória militar sobre a abertura. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1995.

FARIAS, José Aírton de. Explosões conservadoras: atentados de extrema-direita na distensão da ditadura civil-militar. Em Tempo de Histórias, Brasília, v. 1, n. 38, 2021, p. 148-167.

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FARIAS, José Airton de. Anticomunismo, antissemitismo e atentados de extrema-direita na abertura da ditadura civil-militar. Revista Discente Ofícios de Clio, Pelotas, 7(12), 2023, p. 120-138.

FICO, Carlos. Como eles agiam. Rio de Janeiro: Record, 2001.

JOFFILY, Mariana. No centro da engrenagem: os interrogatórios na Operação Bandeirante e no DOI de São Paulo (1969-1975). Rio de Janeiro: Arquivo Nacional; São Paulo: Edusp, 2013.

KUCINSKI, Bernardo. O fim da ditadura militar. São Paulo: Contexto, 2001.

MEDEIROS, Rogério; NETTO, Marcelo. Memórias de uma guerra suja: Cláudio Guerra em depoimento. Rio de Janeiro: Topbooks, 2012.

MATHIAS, Suzeley Kalil. Distensão no Brasil: o projeto militar (1973-1979). Campinas: Papirus, 1995.

MILLER, Jennifer. Cold War democracy. The United States and Japan. In: CORDEIRO, Janaina Martins. A marcha da família pela liberdade em São Paulo: direitas, participação política e golpe no Brasil, 1964. Revista de História da USP, São Paulo, nº 180, 2021.

MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Em guarda contra o “perigo vermelho”: o anticomunismo no Brasil (1917-1964). São Paulo: Perspectiva: FAPESP, 2002.

MOTTA, Rodrigo Patto Sá. O anticomunismo militar. In: MARTINS FILHO, João Roberto (Org.). O golpe de 1964 e o regime militar: novas perspectivas. São Carlos: EdUFSCar, 2014.

REIS, Daniel Aarão. Ditadura e democracia no Brasil: do golpe de 1964 à Constituição de 1988. Rio de Janeiro: Zahar, 2014.

RODEGHERO, Carla Simone. Memórias e avaliações”: norteamericanos, católicos e a recepção do anticomunismo brasileiro entre 1945 e 1964. Tese de doutoramento em História, Porto Alegre, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2002.

TEIXEIRA, Mauro Eustáquio Costa. A revanche dos vencedores: história, memória e luta política no Orvil. Dissertação de Mestrado em História, Mariana, Universidade Federal de Ouro Preto, 2012.

Como citar este artigo:

FARIAS, Airton de. Violência em verde e amarelo: o terrorismo da extrema-direita. História da Ditadura, 20 jan. 2023. Disponível em: https://www.historiadaditadura.com.br/post/violencia-em-verde-e-amarelo-o-terrorismo-da-extrema-direita. Acesso em: [inserir data].