Educação e fiscalização garantem a sobrevivência de espécies

Da ECO-92 à RIO+10

Medidas provisórias são fonte de biopolêmica:
Ulisses Capozoli

A trajetória inacabada de uma regulamentação:
Cristina Azevedo e Eurico Azevedo

Preservação e bioprospecção:
Mário Palma, Tetsuo Yamane e Antonio Camargo

Agricultura e Biodiversidade: João Paulo Teixeira

Microorganismos produzem plásticos biodegradáveis:
Luziana da Silva, Maria Rodrigues e José Gomez

O Biota Fapesp:
Carlos Joly

Redes eletrônicas em biodiversidade:
Dora Canhos, Sidnei de Souza e Vanderlei Canhos

Bibliografia

 

Educação e fiscalização garantem
a sobrevivência de espécies

Proteger espécies da extinção é o propósito de diversos projetos desenvolvidos no Brasil. Os resultados revelam que, aos poucos, a população aprende a respeitar a fauna nacional e pode encontrar nela até mesmo meios de desenvolvimento econômico e social.

O Projeto Tamar, criado em 1980 em parceria com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), é uma das inciativas que está dando certo. Em mais de 20 anos de existência equipes profissionais, que contam com a participação das comunidades locais, conseguiram manter vivas em torno de 4 milhões de tartarugas marinhas, ameaçadas de extinção. Na lista de espécies em risco estão a tartaruga oliva (Lepidochelys olivacae), a cabeçuda (Caretta caretta), a verde (Chelonia mydas), a de pente (Eretmochelys imbricata) e a de couro (Dermochelys coriacea). Foram anos buscando formar uma consciência geral e que envolveram as comunidades, universidades, centros de pesquisa, empresas e parcerias que dão sustentação às ações.

É o que informa o biólogo e coordenador-técnico do Tamar em Salvador (BA), Gustave Lopez. O Tamar-Ibama possui 21 bases de proteção e pesquisa - que são o local para que os animais se alimentem e se reproduzam -, nos estados da Bahia, Pernambuco (onde está o Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha), Sergipe, Ceará, Rio Grande do Norte, Espírito Santo, São Paulo e Rio de Janeiro. Aliado à preocupação educativa quanto ao meio ambiente, o projeto possui um caráter social. Mantém, na sua sede nacional, na Praia do Forte (BA), uma creche para crianças da região e, em Regência (ES), emprega jovens e mulheres.

No Norte do País, existem os projetos do Peixe-Boi e o de proteção de quelônios (tartarugas) de água doce, que também funciona em Goiás - na vazante dos rios da Bacia Amazônica e as sub-bacias dos rios Araguaia e Tocantins - e no Mato Grosso. Em 21 anos, o Projeto Quelônios soltou na natureza mais de 30 milhões de filhotes de tartarugas - como a da Amazônia e a tracajá -, como informa o biólogo Isaías José Reis, técnico da área de criação de quelônios em cativeiro do Centro Nacional de Quelônios da Amazônia (Cenaqua/Ibama), sediado em Goiânia (GO).

Ele destaca que os turistas e os pescadores são os que mais dificultam o trabalho. Na região Norte, esclarece o biólogo, existe o costume de se comer tartarugas (que já começam a ser servidas também em restaurantes de outros estados). Criações comerciais, monitoradas pelos técnicos, procuram evitar a pesca predatória. A médica veterinária e integrante da coordenação da área técnica do Cenaqua, Vera Lúcia Ferreira Luz, diz que há 80 criadouros comerciais registrados no Norte e no Centro-Oeste, 21 deles em fase de comercialização. O objetivo é educar a população para proteger as espécies e para fazer o manejo de maneira autônoma. Há, nas duas regiões, 115 sítios reprodutores de quelônios.

Com mais de 20 anos, o Projeto Peixe-Boi levou pesquisadores, técnicos e fiscais a dar ao peixe-boi chances de sobrevivência, sustentado por estudos, campanhas educativas e dedicação das pessoas envolvidas. Em 1998, o Centro Peixe-Boi/Ibama transformou-se em Centro Nacional de Pesquisa, Conservação e Manejo de Mamíferos Aquáticos, voltado para a proteção dos dois tipos de peixe-boi encontrados no País, o peixe-boi marinho, na costa nordeste, e o peixe-boi da Amazônia. No entanto, a população desses animais ainda diminui com o passar do tempo, devido à degradação do seu habitat.

O estado do Paraná, apesar de ter uma costa marinha reduzida, sedia vários projetos de preservação de golfinhos, jacarés, aves e a criação de recifes marinhos artificiais. Os responsáveis são, desde 1997, a ONG Ecoplan, em conjunto com o Centro de Estudos do Mar da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Assim, busca-se garantir a sobrevivência de vários peixes, entre eles o mero, que pode pesar até 250 quilos e está na lista de animais em extinção. Por meio da recriação de ambientes naturais, permite-se a existência de outros animais, como esponjas, crustáceos, pequenos corais e moluscos.

Segundo o biólogo e consultor científico da Ecoplan, Ariel Scheffer da Silva, um dos problemas enfrentados no litoral do Paraná é que barcos de Santa Catarina e de São Paulo prejudicam o meio ambiente com a pesca de arrasto de camarões e com as frotas pesqueiras industriais que comprometem a pesca artesanal. Uma das vantagens dos recifes artificiais é que eles dificultam esse tipo de prática e, com o projeto, os pescadores da região retomam um antigo método de pesca. "Eles estão mudando a tecnologia de uma pesca menos seletiva para uma metodologia mais seletiva, com anzol e rede", afirma o pesquisador.

A Ecoplan possui também o Projeto Delphi, de monitoramento da população de golfinhos nas baías de Guaratuba e Paranaguá. Além destes existem, o Projeto Jacaré, acompanha o jacaré-de-papo-amarelo, ameaçado de extinção, e o Projeto Guará tenta recuperar a ave guará, outro espécime que pode acabar no País.

Vivendo na Mata Atlântica, o mico-leão dourado, é também um animal que poderá ser considerado extinto se, até 2025, o Brasil não tiver pelo menos duas mil espécies. Para tanto, é preciso aumentar o hábitat disponível de 16.600 hectares para 25.000 nos próximos 24 anos. Hoje, existem cerca de 480 animais vivendo em cativeiro e outros 1000 vivendo livremente em uma área equivalente a 2% do habitat natural. Pesquisadores do projeto, desenvolvido pela Fundo Mundial para a Natureza (WWF) e outros parceiros desde 1971, comemoraram o nascimento do milésimo mico-leão-dourado, em abril deste ano, na Reserva Biológica de Poço das Antas, no Rio de Janeiro.

Atualizado em 10/06/2001

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