Educação e fiscalização garantem a sobrevivência de espécies

Da ECO-92 à RIO+10

Medidas provisórias são fonte de biopolêmica:
Ulisses Capozoli

A trajetória inacabada de uma regulamentação:
Cristina Azevedo e Eurico Azevedo

Preservação e bioprospecção:
Mário Palma, Tetsuo Yamane e Antonio Camargo

Agricultura e Biodiversidade: João Paulo Teixeira

Microorganismos produzem plásticos biodegradáveis:
Luziana da Silva, Maria Rodrigues e José Gomez

O Biota Fapesp:
Carlos Joly

Redes eletrônicas em biodiversidade:
Dora Canhos, Sidnei de Souza e Vanderlei Canhos

Bibliografia

 

O uso de redes eletrônicas em biodiversidade

Dora Ann Lange Canhos,
Sidnei de Souza

e Vanderlei Perez Canhos

O Brasil é um país que dispõe de um enorme capital natural (de genes a ecossistemas), considerável capacidade instalada (recursos humanos especializados, acervos científicos e coleções biológicas únicas) e razoável competência em tecnologias capacitadoras, como biotecnologia e tecnologia da informação e comunicação. A prosperidade econômica e o futuro do país será cada vez mais dependente do uso sustentável do seu capital natural. Portanto a informação sobre a biodiversidade e ecossistemas será vital para uma gama de aplicações científicas, tecnológicas, educacionais e governamentais.

Grande parte da informação sobre biodiversidade existe em forma não prontamente utilizável. De bibliotecas tradicionais (papel), a bases de dados distribuídas (e não integradas), e amostras (espécimens) de coleções biológicas (botânicas, zoológicas, e microbiológicas), os nossos registros sobre a biodiversidade são descoordenados e, via de regra, inacessíveis. É evidente que precisa haver um esforço integrado - local, regional e internacional - envolvendo inúmeros indivíduos e instituições, das mais diversas áreas do conhecimento, para a construção de uma rede de informação verdadeiramente útil e utilizável. É evidente que esta rede dependerá também dos avanços na tecnologia de comunicação e informação.

A base legal para o desenvolvimento de sistemas de informação para biodiversidade é a Convenção da Diversidade Biológica (CDB), que resumidamente trata da conservação in-situ (no local de origem) e ex-situ (fora do local de origem), da utilização sustentável da biodiversidade e repartição dos benefícios resultantes da utilização comercial dos recursos genéticos.

A Convenção reconhece a necessidade de definir uma estratégia que estabeleça mecanismos para compartilhar e trocar informação e conhecimento técnico-científico. Esse mecanismo, estabelecido no escopo da CDB, foi denominado the Clearing-house Mechanism (CHM). O modelo adotado foi a de um sistema descentralizado, formado por pontos focais nacionais e coordenado pelo secretariado da CDB. Este modelo, proposto pelo governo Brasileiro, em oposição a um modelo centralizado, tem como base o uso intensivo da Internet.

A Rede Brasileira de Informação em Biodiversidade, a BINbr (Biodiversity Information Network - Brasil) está sendo implementada através de um projeto financiado pelo tesouro nacional e GEF/Banco Mundial, fruto de uma parceria entre o Ministério do Meio Ambiente através do Projeto de Conservação da Biodiversidade Brasileira (Probio) e da Fundação André Tosello através da Base de Dados Tropical (BDT) - a equipe do BDT estabeleceu o Centro de Referência em Informação Ambiental (Cria). A importância da BINbr foi iniciar um movimento de integração de pessoas e instituições, propagando a "cultura internet" junto às comunidades científica, política e de educação. Do ponto de vista técnico, foi adotada uma filosofia aberta no desenvolvimento dos sistemas online, tornando-os bastante flexíveis, frente ao rápido desenvolvimento de novas tecnologias na área de disseminação de informação por meios eletrônicos, e de baixo custo. Todo o sistema BINbr foi desenvolvido utilizando software de domínio público ou shareware.

Além do Clearing-House Mechanism, no plano internacional, destaque deve ser dado ao Global Biodiversity Information Facility - GBIF, uma iniciativa recém estabelecida com a finalidade de viabilizar uma rede interoperável de bases de dados e de ferramentas de tecnologia da informação. O GBIF é composto por países membros e organizações participantes associadas, e está sendo implementado em estreita colaboração com programas estabelecidos e organizações que compilam, mantém e utilizam informações biológicas.Tem como meta tornar a informação sobre biodiversidade disponível de tal modo a produzir benefícios econômicos, sociais e ambientais. O objetivo do GBIF é desenhar, implementar, coordenar e promover a compilação, interligação, padronização, digitalização e disseminação global dos dados mundiais sobre biodiversidade, obedecendo critérios de propriedade intelectual e reconhecendo os devidos créditos aos provedores de informação. O conteúdo e a relação com outras iniciativas está esquematizado na figura 1.

Uma terceira iniciativa relevante para o Brasil é a Rede Inter-Americana de Informação em Biodiversidade - IABIN (Inter-American Biodiversity Information Network), que tem como missão promover meios compatíveis de coleta, comunicação e troca de informação relevante para tomada de decisão e educação em conservação da biodiversidade. IABIN é uma iniciativa da Cúpula das Américas em Desenvolvimento Sustentável (Santa Cruz, Bolívia, 1996) que deve complementar iniciativas já existentes como o próprio Clearing-House Mechanism.

Assim, têm-se vários mecanismos oficiais - internacionais, regionais e nacionais - sendo estabelecidos, visando criar uma base compreensível de informação sobre biodiversidade, sendo que o elemento essencial continua sendo o dado ou a informação local.

A base para qualquer estratégia de informação passa pelo tripé:

A essência é tornar a informação de qualidade acessível e utilizável para o usuário final. Temos grandes desafios técnicos e socioculturais a serem enfrentados. Do ponto de vista técnico, a evolução da tecnologia de comunicação e de informação impõe um grande dinamismo, versatilidade e capacidade de mudança. A questão chave é o estabelecimento de padrões mínimos que facilitem a troca e o compartilhamento de dados e informações. Devemos acompanhar de perto os desenvolvimentos da Internet 2, de padrões como XML (Extensible Markup Language) e de metadados (como Dublin Core e FGDC) que certamente serão essenciais para o estabelecimento desta rede de informação de uma forma distribuída e integrada. Temos que acompanhar também iniciativas como o Species 2000 e o Species Analyst.

O Species 2000 tem como objetivo enumerar todas as espécies de plantas, animais e microrganismos conhecidas como ponto de partida para estudos de biodiversidade global. Um dos grandes problemas na construção de um sistema de informação que tem como unidade a espécie, é a questão da nomenclatura (validade, sinonímia, atualização, etc.). Iniciativas como o Species 2000 e outras buscam solucionar este problema criando dicionários permanentemente atualizados.

O Species Analyst é um projeto de pesquisa que está desenvolvendo padrões e ferramentas para o acesso a bancos de dados de coleções biológicas distribuídas pelo mundo. O projeto está baseado no Museu de História Natural e Centro de Pesquisa em Biodiversidade da Universidade de Kansas. O projeto visa desenvolver ferramentas que permitam a troca, o uso e a análise de fichas de coletas de espécimens depositados em coleções científicas. Os padrões e software que estão sendo desenvolvidos fornecem um mecanismo para combinar vários bancos de dados de diferentes coleções em uma base de dados única, virtual. É também possível realizar análises com os resultados, tais como prever a distribuição potencial de espécies. Trata-se de um exemplo concreto de utilização de uma base de conhecimento distribuída para aplicação local.

Para participar dessas iniciativas é fundamental preparar os nossos dados/informações apoiando a organização e digitalização dos nossos acervos científicos e incentivando e viabilizando a produção e disseminação de novos dados e informações.

Temos também o desafio sociocultural. Algumas iniciativas têm procurado envolver a comunidade científica na construção de base de conhecimento da diversidade biológica. Dois grandes exemplos são os workshops por Bioma, realizados com o apoio do PROBIO, e o programa Biota/Fapesp - Instituto Virtual da Biodiversidade.

Estabelecido oficialmente em março de 1999, o Programa Biota é o resultado de três anos de planejamento e articulação de um grupo de pesquisadores com a comunidade científica do Estado de São Paulo, com o apoio da Coordenação de Ciências Biológicas e o respaldo da Diretoria Científica da Fapesp.

Há cerca de 500 pessoas vinculadas ao Biota/Fapesp entre pesquisadores e estudantes de graduação e pós-graduação atuando em todo o estado de São Paulo nas mais diversas áreas de relevância para a Conservação da Biodiversidade.

Todos os Projetos do Biota/Fapesp estão sendo integrados através do Sistema de Informação Ambiental (SinBiota). Além do Banco de Dados textual, o SinBiota possui uma Base Cartográfica do Estado de São Paulo com temas como relevo, rede de drenagem e remanescentes de vegetação na escala 1:50.000. No caso das Unidades de Conservação os mapas estão em escala 1:10.000. Todos os mapas também estarão disponíveis on line.

O Banco de Dados e a Base Cartográfica estão sendo interligados por meio do Atlas Biota/SP, que permite a visualização da distribuição geográfica dos pontos de coleta de uma ou mais espécies.

O próximo passo será a integração dos dados atuais (resultante dos levantamentos que estão sendo realizados) com dados históricos provenientes dos museus, herbários e coleções de microrganismos do Estado de São Paulo. Todos esses centros de informação serão integrados através de uma rede distribuída que, em um futuro próximo, será integrada à Species Analyst Network.

A base para qualquer decisão é a informação. Quanto melhor estruturada e acessível, maior será a possibilidade de ser utilizada. A comunidade científica tem que se conscientizar do seu papel mais amplo que é a de informar e formar, de tornar os seus conhecimentos disponíveis a um público cada vez mais amplo. Para tanto é necessário estabelecer parcerias envolvendo diferentes atores, integrar diferentes áreas do conhecimento e usar todas as ferramentas que a revolução tecnológica da informação e comunicação nos oferecem.

Dora Ann Lange Canhos, Sidnei de Souza e Vanderlei Perez Canhos são pesquisadores do Centro de Referência em Informação Ambiental (Cria)

Atualizado em 10/06/2001

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