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Sweatshops: uma realidade em expansão

Mais e mais utilizada nos últimos anos, a expressão sweatshops (literalmente, "fábricas do suor") indica uma situação de exploração extrema dos trabalhadores, caracterizada por um salário abaixo do mínimo necessário à sobrevivência, pela ausência de qualquer forma de garantia ou proteção trabalhista, pela exploração de crianças, pelas condições de trabalho perigosas para saúde ou por ameaças, moléstias sexuais e abusos físicos e psicológicos no lugar de trabalho.

As denúncias internacionais contra os sweatshops crescem a cada ano e formam uma triste antologia que nos mostra as inúmeras possibilidades para exploração dos trabalhadores: mulheres forçadas a tomar contraceptivos ou submetidas a testes de gravidez e que são demitidas em caso dêem positivo, trabalhadores expostos a substâncias tóxicas, ameaçados e demitidos em caso de protestos, forçados a turnos de trabalho de até 19 horas, impedidos de abandonar o trabalho por meio de vigias armados.

De acordo com a organização Global Echange, os trabalhadores em El Salvador envolvidos na produção de tênis que nos EUA custam cerca de 140 dólares, ganham 24 centavos de dólar a cada sapato produzido. Na China, trabalhadores morreram vítimas de sweatshops, para uma doença que ganhou o nome de "guolaosi": morte súbita por hiper-trabalho. Porém, ao contrário do que se pensa, os sweatshops não são realidades exclusivas do sul do mundo. São comuns em muitos países do leste europeu e existem até nos EUA. De acordo com a ONG CorpWacht, em Los Angeles, dois terços dos imigrados que trabalham na confecção de roupas não recebem o salário mínimo garantido pela lei.

Ao mesmo tempo em que as sweatshops foram se difundindo, também cresceu na opinião pública mundial um sentimento de indignação contra essa prática ilegal. Muitas Ongs se especializaram na luta contra os sweatshops. Em 1997, um relatório confidencial da companhia multinacional Nike, divulgado pelo CorpWacht, ganhava destaque nas capas de jornais do mundo inteiro, mostrando que os trabalhadores de uma fábrica ligada à multinacional, no Vietnã, eram submetidos a condições de trabalhos duríssimas. A Nike admitiu as acusações meses depois, na tentativa de atenuar a queda de vendas e das ações. Nos anos seguintes, as companhias acusadas de envolvimento na prática de sweatshops cresceram, incluindo, de acordo com a organização Sweatshop Watch, as multinacionais Levi's, Tommy Hilfiger, American Eagle, Calvin Klein, Gap, Wal-Mart, Polo-Ralph Lauren, Kmart e muitas outras. A Disney foi também acusada de exploração dos trabalhadores. De acordo com The National Labor Committee, uma ONG baseada em New York, os trabalhadores da fábrica Shah Makhdum, em Bangladesh, que produze camisetas da Disney, são submetidos a períodos de trabalho ininterrupto de até 15 horas, 7 dias por semana.

A maioria das companhias nega as acusações feita pelas Ongs, alegando o respeito das leis trabalhistas locais sobre salário mínimo ou, mais freqüentemente, negando suas responsabilidades: a maioria das fábricas são terceirizadas, com donos locais, e as multinacionais afirmam de não ter controle nem conhecimento sobre o que acontece dentro delas.

Com a realização das Olimpíadas de Atenas 2004, várias organizações e sindicatos - entre as quais a britânica Oxfam - se juntaram para lançar a campanha "Jogue limpo nas Olimpíadas", pedindo que as empresas de moda esportiva respeitem os direitos dos trabalhadores e assumam o compromisso com a eliminação das sweatshops e da exploração infantil. Para promover a campanha estão sendo produzidas camisetas esportivas com o número: "16", por exemplo, significando "16 horas por dia, 6 dias por semana", ritmo de trabalho de centenas de milhares de trabalhadores explorados. Ou "3", significando "3 dólares por dia para fabricar tênis de 90 dólares".

A Oxfam também lançou, em fevereiro passado, um relatório baseado em entrevistas em 12 países, sobre o impacto da exploração sobre mulheres trabalhadoras.

(YC)

 
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Atualizado em 10/05/2004
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