Editorial:

As cidades e os muros
Carlos Vogt

Reportagens:
Prós e contras da revitalização urbana
Enfim o Estatuto da Cidade
Programa Habitat procura desenvolver a qualidade de vida nas cidades
Ocupações revelam déficit habitacional
Fórum Social propõe uma outra cidade possível
Novas metrópoles, velhos problemas
Conflitos entre centro e periferia
Qualidade das águas é cada vez pior
Lixo é problema ambiental com agravantes sociais
Transporte em São Paulo: conflitos e soluções
Poluição sonora piora ambiente urbano
Preservação ambiental: destino alternativo para o litoral sul de São Paulo?
Cidade tenta unir tecnologia com inclusão social
Educação para uma nova cidade
Brasília contrastes de uma cidade planejada
Vilas significaram distância entre patrões e operários
Artigos:
Dimensões da tragédia urbana
Ermínia Maricato

Aprovação do Estatuto da Cidade
Geraldo Moura

O passado nas cidades do futuro
Cristina Meneguello
"As cidades nos países subdesenvolvidos" em um mundo globalizado
Tatiana Schor
Cidades e seus fragmentos
Rogério Lima
Cidade, língua, escolae a violência dos sentidos
Cláudia Pfeiffer
A cidade como objeto de estudo
Maria Josefina Gabriel Sant'Anna
Poema:
Manual do novo peregrino
Carlos Vogt
 
Bibliografia
Créditos

 

 

Cidade tenta unir tecnologia e exclusão social

No Brasil, os contrastes sociais não são novidade para ninguém. A falta de infra-estrutura básica acarreta problemas de saúde, educação, transporte , alimentação e tantos outros. Vivemos em um país com um índice crítico de analfabetismo. Segundo o IBGE, o país conta com 20 milhões de pessoas incapazes de ler e escrever. Essa precariedade de condições a que uma grande camada da população está submetida, engrossa as estatísticas de desemprego. Os índices de desempregados sem qualificação e com dificuldades para retornar ao mercado de trabalho retraído, crescem de forma assustadora, assim como o trabalho informal.

Algumas cidades do país, no entanto, apresentam ou deveriam apresentar um diferencial com relação ao resto do país. Um exemplo é a cidade de São Carlos, no interior de São Paulo, pólo de ciência e tecnologia. Por suas características peculiares, tem potencial para, um dia, receber o título de cidade sustentável, o que significa garantir para sua população educação, saúde, trabalho e segurança.

São Carlos, Capital da Tecnologia

A cidade de São Carlos, chamada de capital da tecnologia, tem uma situação peculiar se comparada ao restante do estado de São Paulo,e mesmo do país. Com 190 mil habitantes, a cidade concentra o maior número de doutores por quilômetro quadrado do país: em média, um doutor para cada 220 habitantes.

A cidade conta com duas universidades públicas, uma federal e outra estadual, mais duas particulares, dois centros de pesquisa da Embrapa e uma fundação de alta tecnologia. Apesar disso, a população de baixa renda não tem acesso a infra-estrutura básica, como esgoto, água e escola para todas as crianças. Muito menos à tecnologia.

O prefeito de São Carlos, Newton Lima, cujo slogan de governo é "Sustentabilidade com Cidadania", mostra as reais condições da cidade. Segundo ele, São Carlos está longe de ser considerada uma cidade com desenvolvimento aplicado à cidadania. Em seus 143 anos de existência, chega agora ao quarto ciclo de desenvolvimento - que teve início com o café, passou pela indústria de máquinas pesadas, entrou na era do desenvolvimento da tecnologia, com a criação da Fundação Parque de Alta Tecnologia, Parq Tec e, finalmente, alcançou há dois anos o ciclo da indústria aeroespacial.

São Carlos jamais teve um planejamento urbano. Na capital da tecnologia, o esgoto nunca foi tratado. Para reverter esse quadro, algumas ações já estão sendo implementadas. Segundo o prefeito Newton, "estamos engatinhando na direção de transformar São Carlos em uma cidade sustentável".

Mas cabe a pergunta: como ser capital da tecnologia quando os problemas sociais são gritantes? O diretor da Fundação Parq Tec, professor Silvio G. Rosa, fala de suas preocupações e descreve os programas que estão sendo desenvolvidos junto a comunidade. A Fundação Parque de Tecnologia, foi criada em dezembro de 1984, por iniciativa do então Presidente do CNPq Ronaldo Cavalcanti de Albuquerque, que cria ao todo 5 fundações no país: São Carlos, Campina Grande, Manaus, Santa Maria e Blumenau.

A criação do Science Park, o primeiro da América Latina, tem como base dez metas a serem desenvolvidas em dez anos, sendo a grande maioria delas voltadas para a população excluída. Na área de educação: erradicar o analfabetismo da cidade, dez anos de educação com qualidade para toda criança de São Carlos, um investimento de 10 milhões de reais nas escolas do Senai e Escola Técnica para formação de técnicos para as indústrias de base. Na área da saúde: a meta é reduzir a mortalidade infantil a zero e elevar a expectativa de vida para 2 anos acima da média regional, água e luz e esgoto tratado. Na área de informação: ligar em uma só rede todas as universidades, laboratórios centros de informação e prefeitura. Na área administrativa: auxiliar a prefeitura na implantação de um plano diretor para a cidade. O objetivo é ter, no final, cerca de duzentas empresas de base tecnológica na cidade, usando a mão de obra formada no local. Segundo Rosa, "não podemos ser a capital da tecnologia enquanto estivermos rodeados pela pobreza"

A criação de um banco de dados pela prefeitura em convênio com o Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), vai mapear os bolsões de pobreza e cadastrar famílias, podendo assim registrar e identificar as necessidades dessa população e dar melhor atendimento. O título de capital da tecnologia simplesmente não coloca a cidade de São Carlos e suas vizinhas na categoria de cidade- padrão, mas os recursos tecnológicos e humanos podem transformá-la em uma cidade sustentável em curto espaço de tempo.

Há outros pólos tecnológicos espalhados pelo Brasil. Sua situação não é muito diferente da encontrada em São Carlos. Há indícios de que as autoridades federais têm percepção desse contraste e dos problemas que, com ele, se amplificam. Uma demonstração dessa preocupação é a reunião, no próximo mês de abril, na cidade de Florianópolis, do ministro de Ciência e Tecnologia Sardenberg com os secretários de Ciência e Tecnologia de todo o país para tratar de formas de acesso mais eficazes e que alcancem de forma efetiva a população de baixa renda do país. O objetivo é acabar com a fronteira tecnológica que, basicamente, só permite a passagem daqueles que possuem passaporte financeiro.


(LO)

Para saber mais
DAVIDOVICH, Fany R. "Transformações do quadro urbano brasileiro: período 1970-1980". In Urbanização e Metropolização no Brasil, 1986.

BAGGIO, Rodrigo. Conhecimento para um Brasil melhor. Valor Econômico, São Paulo, 26/10/00. E-mail: cdi@cdi.org.br

BAGGIO, Rodrigo. Valor Econômico, São Paulo, 25/05/00.E-mail: cdi@cdi.org.br

ALBUQUERQUE, Roberto Cavalcanti de O Brasil e a Globalização. Recife, 1999.

Fundação Parque de alta tecnologia - Parq Tec

 

 

Atualizado em 10/03/2002

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