Arquivo da categoria: artigo

A tecnologia no processo de trabalho (assim como o capital) é uma relação social

Por Peter Frase, publicado originalmente na revista Jacobin em 18 de março de 2015, tradução de Amin Simaika

O discurso dominante tende para a visão simplista pela qual a tecnologia é uma coisa sobre a qual as pessoas podem ser contra ou a favor; talvez algo que possa ser usado de maneira ética ou não ética. Mas as tecnologias são desenvolvidas e introduzidas no contexto das batalhas entre capital e mão de obra, com vitórias, derrotas e concessões. Quando os termos do debate passam das relações de produção para uma tecnologia reificada, é sempre para o benefício dos patrões. A questão, portanto, é como incorporar tecnologia no pensamento e estratégia política sem tratá-la como externa às relações sociais nem cair na dicotomia tecno-utópica versus tecno-cética. Em muitos casos, o problema é que tecnologias úteis e potencialmente emancipadoras estão aprisionadas em um invólucro capitalista, otimizadas de forma a maximizar o lucro privado em vez de maximizar a riqueza social. Continue lendo A tecnologia no processo de trabalho (assim como o capital) é uma relação social

Pensamento inconsciente não existe

Por Nick Chater, publicado originalmente na revista Nautilus em 26 de julho de 2018, tradução de Amin Simaika

A descrição de Poincaré [na foto acima] de seu método particular de resolver problemas matemáticos sugere o motivo pelo qual ele era especialmente susceptível a lampejos brilhantes de entendimento. A estratégia dele era calcular o esboço da solução, sem caneta nem papel; e só então, laboriosamente, traduzir as suas intuições em linguagem matemática simbólica, a serem posteriormente checadas e verificadas. Fundamentalmente, para Poincaré, os problemas matemáticos eram transformados em problemas perceptuais: e com a intuição correta, a criação de provas seria relativamente rotineira, apesar de lenta. Um problema perceptual é exatamente o tipo de problema que pode ser resolvido em um único passo mental — contanto que encontremos exatamente a informação certa e vejamos o padrão nessa informação da maneira certa. Continue lendo Pensamento inconsciente não existe

Conhecimento comum, coordenação e a lógica das emoções autoconscientes

Por Kyle A. Thomas, Peter DeScioli e Steven Pinker

 Uma ofensa representa uma ameaça maior à reputação do transgressor se uma audiência não somente sabe privadamente sobre a transgressão, mas também sabe que o transgressor sabe que eles(as) sabem. Alguém que fracassa em uma tarefa ou decepciona um amigo ficará malvisto se não pedir desculpa, mas vai ficar ainda pior se a audiência souber que ele sabe que a audiência presenciou a ofensa e ainda não há pedido de desculpa à vista.

Esta é uma versão resumida de artigo publicado originalmente em Evolution and Human Behavior, volume 39, edição 2, março de 2018, pags. 179-190 Continue lendo Conhecimento comum, coordenação e a lógica das emoções autoconscientes

As mulheres negras e a ciência no Brasil: “E eu, não sou uma cientista?”

Por Bárbara Carine Soares Pinheiro

Apenas 10,4% das mulheres negras com idade entre 25 a 44 anos concluem o ensino superior. O percentual de mulheres pretas e pardas doutoras professoras de programa de pós graduação é inferior a 3%. Só 7% das bolsas de produtividade são destinadas a mulheres negras. Continue lendo As mulheres negras e a ciência no Brasil: “E eu, não sou uma cientista?”

Regulação algorítmica e os Estados democráticos

Por Sérgio Amadeu da Silveira

Algoritmos são performativos. Isso quer dizer que alteram os ambientes em que são utilizados. Geram efeitos, muitos dos quais não previsíveis. Por isso, é fundamental que as sociedades democráticas avancem na compreensão das implicações dos algoritmos. Só assim será possível encontrar o melhor modo de regular essas tecnologias que começaram a regular nosso comportamento e nossa relação com o Estado. Mas os sistemas algorítmicos são envoltos pelo sigilo. Isso gera um grave problema para o Estado democrático, uma vez que a democracia não convive bem com a opacidade. A questão aqui colocada é como fiscalizar algo que não tem o seu funcionamento transparente. Como compreender um conjunto de milhares de linhas de códigos e funções matemáticas que podem se alterar constantemente? Este texto é fruto das análises oriundas do projeto de pesquisa “Regulação Algorítmica no setor público: mapeamento teórico e programático”, financiado pela Fapesp. Continue lendo Regulação algorítmica e os Estados democráticos

Vaticínios punitivos: os algoritmos preditivos e os imaginários de ordem e cidadania

Por Alcides Eduardo dos Reis Peron

Algoritmos preditivos têm sido introduzidos em sistemas de vigilância e monitoramento não apenas para imbuir a ação policial ou militar de maior eficiência, mas como forma de repor perpetuamente mecanismos de submissão de parcelas da população. A discricionariedade e a arbitrariedade das ações policiais recebem um verniz técnico e racional de legitimidade. Continue lendo Vaticínios punitivos: os algoritmos preditivos e os imaginários de ordem e cidadania

2018: o ano em que a inteligência artificial e a burrice natural fecharam parceria

Por Marcelo Soares

Às vezes, gosto de provocar os amigos: “você tem mais medo da inteligência artificial ou da burrice natural?”

Conhecemos bem os efeitos da burrice natural. Já a inteligência artificial é praticamente uma incógnita no debate público, porque tem quase tantas definições quantos forem os objetivos. Continue lendo 2018: o ano em que a inteligência artificial e a burrice natural fecharam parceria

Inteligência artificial: a revolução ainda não aconteceu

Por Michael Jordan

Precisamos compreender que o atual diálogo público sobre inteligência artificial (IA)  — que se concentra em um estrito subconjunto da indústria e um estreito subconjunto da academia —  corre o risco de nos cegar para os desafios e oportunidades que são apresentados pelo escopo total de IA, aumento de inteligência (AI) e infraestrutura inteligente (II). Traduzido do original “Artificial intelligence – The revolution hasn’t happened yet”, publicado em 19 de abril de 2018, por Amin Simaika. Continue lendo Inteligência artificial: a revolução ainda não aconteceu