Arquivo da categoria: artigo

O refúgio por motivos de orientação sexual e identidade de gênero

Por Vítor Lopes Andrade

Desde as décadas de 1980 e 1990, existe a possibilidade de reconhecimento do status de refugiado/a para aquelas pessoas que fugiram de seus países de origem por terem sido perseguidas, ou por temerem ser perseguidas, em razão de suas orientações sexuais e/ou identidades de gênero (OSIG). Apesar de a Convenção de 1951 (Acnur, 1951) – que instituiu a categoria “refugiado” e os cinco critérios clássicos de perseguição – não mencionar OSIG, passou-se a se entender que as pessoas que se identificam como gays, lésbicas, homossexuais, bissexuais, trans – ou que tenham desejos afetivo-sexuais por pessoas do mesmo sexo, ainda que não se utilizem de nenhuma dessas categorias identitárias – estariam sujeitas a proteção internacional por pertencerem a um “grupo social específico”, um dos cinco critérios clássicos estipulados pela Convenção. Continue lendo O refúgio por motivos de orientação sexual e identidade de gênero

As cores ao longo da ciência

Por Peter Schulz

A epidemia de Peste Bubônica, que assolou a Inglaterra entre 1665 e o ano seguinte, ficou conhecida como a Grande Praga de Londres[i], mas espalhou-se também por várias cidades menores, inclusive Cambridge, onde se encontrava o jovem Isaac Newton. O Trinity College da universidade local interrompeu as atividades em agosto de 1665 e o recém-formado e já promissor filósofo natural se refugiou em Woolsthorpe, sua cidadezinha natal. Para a História da Ciência o período da epidemia ficou conhecido como Anni Mirabilis, devido às contribuições de Newton ao conhecimento humano realizadas durante seu isolamento. Uma das contribuições é uma Teoria das Cores, cujo ponto de partida foi a observação da decomposição de um feixe de luz branca nas cores do arco íris ao passar por um prisma. Continue lendo As cores ao longo da ciência

O colorido das flores e a polinização

Por Maria Gabriela G. de Camargo, João Marcelo Robazzi B. V. Aguiar e Pedro Joaquim Bergamo

Como as flores usam as cores para se comunicar com seus polinizadores? Como diferentes polinizadores enxergam estas cores e selecionam as flores que irão visitar? Continue lendo O colorido das flores e a polinização

Pigmentos naturais: potenciais fontes e efeitos benéficos

Por Renan Chisté e Ana Augusta Odorissi Xavier

Os pigmentos naturais estão amplamente distribuídos ao nosso redor.  Estão nas cores que enxergamos em diferentes frutas e vegetais que conhecemos, como a cenoura, acerola e kiwi; nas folhas das diversas árvores em uma floresta; nas rosas, orquídeas e amores-perfeitos do nosso jardim. Da mesma forma, os pigmentos também colorem as penas de aves como o flamingo, além de estarem presentes em outros animais e alguns minerais. Graças aos avanços da ciência, hoje sabemos que alguns microrganismos também são capazes de sintetizar pigmentos, a exemplo de algumas microalgas (Chlorella), bactérias e também fungos. Continue lendo Pigmentos naturais: potenciais fontes e efeitos benéficos

Percepção da cor na leitura de obras de arte por pessoas daltônicas

Por Vanessa Pavelski da Gama e Joedy Luciana Barros Marins Bamonte

A denominação popular unifica a diversidade rotulando invariavelmente como “daltonismo” qualquer identificação cromática divergente do geralmente observado por aqueles que ‘’percebem todas as cores’’. Dessa forma, no senso comum não existe margem para especificidades como deuteranopia, pronatopia e tritanopia, mencionando apenas três tipos diferentes “da visão normal”. Um universo de diversidade perceptiva é trivializado e isso é problemático para a própria integração de tal diversidade na sociedade ativa, que consome cultura visual diariamente. Continue lendo Percepção da cor na leitura de obras de arte por pessoas daltônicas

Traços psicológicos do respeito e do desrespeito aos direitos humanos

Por José Moura Gonçalves Filho

Idiotia vem do grego clássico ίδιον (ídion), quando empregado para designar o que é próprio em oposição ao que é estrangeiro: daí que idiotia caracterize a incapacidade de viver o que não seja familiar e conhecido, caracteriza uma concentração de mim no que sou eu e meu grupo, caracteriza a ignorância de tudo que supera o meu grupo privado. Os idiotas só suportam a cidade enquanto for possível privatizá-la, ligá-la aos interesses e negócios da família ou do grupo com que estejam familiarizados. Continue lendo Traços psicológicos do respeito e do desrespeito aos direitos humanos

A quem interessa manter populações inteiras de Arthur Flecks longe da psicanálise?

Por Vivian Whiteman

Nenhum filme recente foi tão abordado pelo viés da saúde mental quanto Coringa de Todd Phillips. Basta uma busca rápida para encontrar artigos, análises e críticas sobre a obra que rendeu o Oscar de Melhor Ator a Joaquin Phoenix. O interesse pelo roteiro nesse sentido não é difícil de explicar: lances dramáticos ligados aos processos de um Édipo de fato trágico, aparecimento de traços psicóticos, passagem ao ato com requintes específicos, ataques de riso tão incontroláveis quanto inconvenientes, um histórico pessoal de abusos que vai do núcleo familiar mais próximo à conjuntura social. Freud pode não explicar, no que faz muito bem, mas é possível usar alguns de seus conceitos e ideias fundamentais para fazer um tipo específico de questionamento sobre as sequências do filme.  Continue lendo A quem interessa manter populações inteiras de Arthur Flecks longe da psicanálise?

O suicídio e os profissionais de segurança pública

Por Fernanda Cruz e Dayse Miranda

Quando analisamos os dados estatísticos acerca das mortes e crimes violentos no Brasil é fácil concluir que somos um país violento. Nossas taxas anuais de homicídio frequentemente ocupam posições de destaque em rankings mundiais. Nesse quadro, jovens e negros têm maiores chances de ser vítimas, e parte importante desses homicídios ocorrem com a participação da polícia, seja por meio de confrontos diretos ou por ações em que foi aplicado excessivamente o uso da força. Esse quadro é amplamente debatido por aqueles que se dedicam a estudar as instituições de segurança pública. Nessa perspectiva, existem inúmeras propostas comprometidas com a reversão desse quadro.

Em contrapartida, menos atenção tem sido dispensada a temas como a saúde física e mental desses profissionais. Para os sociólogos Sérgio Adorno e Alba Zaluar isso estaria relacionado à visão instrumental que a sociedade possui dos policiais como produtores de segurança pública [1]. Ao mesmo tempo, é preciso considerar a exposição ao risco que esses profissionais sofrem no desempenho de suas atividades diárias, e seus possíveis impactos na saúde física e mental. Continue lendo O suicídio e os profissionais de segurança pública