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Uma breve história (não gloriosa) das Nações Unidas

Por Peter Gowan, publicado originalmente na revista New Left Review nº 24, nov-dez/2003. Versão editada e resumida por Ricardo Muniz, tradução de Amin Simaika

Durante o século XX os líderes norte-americanos lançaram duas vezes ambiciosas instituições de segurança coletiva para solucionar conflitos internacionais. A cada vez, logo depois de lançados, os projetos eram subvertidos ou transformados pelos próprios Estados Unidos. A ideia de Wilson da criação de uma Liga das Nações naufragou com a oposição republicana no Senado. A concepção de Roosevelt das Nações Unidas foi abortada pela administração democrata de seu sucessor. Até 1950, a administração Truman, orientada por Dean Acheson, havia chegado a uma estrutura política bem diferente para gerenciar a política mundial, que não exigia desmantelar as Nações Unidas nem se retirar dela; a entidade mundial e suas agências desempenhavam demasiadas funções úteis aos Estados Unidos para isso. Porém significava reduzi-la a não mais que um papel secundário, como instrumento auxiliar da diplomacia americana. Continue lendo Uma breve história (não gloriosa) das Nações Unidas

Sete coisas que precisam acontecer antes de termos uma economia sem empregos

Por Larry Alton

Algumas pessoas trabalham toda a vida só para não precisar mais trabalhar. Perseguem um sonho de aposentadoria porque, mesmo “gostando” de seus empregos, ainda se trata de uma responsabilidade obrigatória; temos que trabalhar para pagar comida, abrigo e todas as demais necessidades básicas. Mas e se, um dia, pudéssemos viver em uma “economia sem empregos”, um mundo em que todas aquelas necessidades básicas nos fossem supridas porque já há fartura delas? Parece que tal conceito deveria ser relegado – indefinidamente – ao âmbito da ficção científica, mas alguns especialistas em economia e tecnologia preveem que isso pode ser uma realidade ainda durante o período de nossas existências. Continue lendo Sete coisas que precisam acontecer antes de termos uma economia sem empregos

O passado compartilhado que nunca aconteceu

Por Laura Spinney, Nature, março de 2017 (tradução de Amin Simaika)

As redes sociais moldam as memórias de forma poderosa. As pessoas precisam de pouca indução para adaptar-se à lembrança majoritária – mesmo que esteja errada. A boa notícia é que pesquisas indicam formas de desalojar as falsas lembranças – ou evitar que se formem. Continue lendo O passado compartilhado que nunca aconteceu

Quarta revolução industrial – Adaptar-se à nova tecnologia ou perecer (mas é isso mesmo?)

Por Steven Poole

No livro de Klaus Schwab, fundador do Fórum Econômico Mundial, o termo chave é “adaptar-se” ao mundo novo que a tecnologia criará. A ideia raramente é contestada, mas, na verdade, é uma atualização velada do darwinismo social, segundo o qual as pessoas que sobreviverem ao dilúvio robótico que se aproxima terão sido o tempo todo, por definição, os mais aptos. O apelo para nos adaptarmos implica que as circunstâncias em mutação que Schwab prevê são como forças inexoráveis da natureza. Mas, obviamente, não são. Continue lendo Quarta revolução industrial – Adaptar-se à nova tecnologia ou perecer (mas é isso mesmo?)

Blockchain: além da bolha do Bitcoin

Por Steven Johnson

O que Satoshi Nakamoto (ninguém sabe quem ele é ou se na verdade é um coletivo de programadores) introduziu no mundo em 2008 foi uma maneira de concordar com o conteúdo de um banco de dados que não tivesse ninguém “no comando”, e uma forma de compensar as pessoas por ajudar a tornar esse banco de dados mais valioso, sem que essas pessoas estivessem numa folha de pagamento oficial ou detivessem ações numa entidade corporativa. Juntas, essas duas ideias resolveram o problema do banco de dados distribuído e o problema de financiamento. De repente havia uma forma de suportar protocolos abertos não disponíveis na infância do Facebook. A ideia do blockchain propõe soluções não estatais para excessos capitalistas como monopólios de informação. Todos devem ter direito a um armazenamento de dados privado, onde todas as várias facetas de sua identidade online sejam mantidas. Esses protocolos de identidade seriam desenvolvidos no blockchain, fonte aberta. Ideologicamente falando, aquele depósito de dados privados seria um verdadeiro esforço em equipe: construído como um ‘intellectual commons’, financiado por especuladores de ‘tokens’, apoiado por regulamentação do Estado. Continue lendo Blockchain: além da bolha do Bitcoin