Todos os posts de comciencia

A fragilidade da comunicação pública no Brasil e sua relação com uma democracia nunca consolidada

Por Eliane Gonçalves e Mariana Martins de Carvalho

Algumas sociedades construíram estruturas comunicacionais com o objetivo de reduzir as desigualdades que dão a alguns lugar privilegiado para exposição de ideias e opiniões. Sem sistemas para contrabalançar, lugares privilegiados de fala se retroalimentam e consolidam ainda mais privilégios. Ao longo do século XX sistemas comunicacionais de caráter público foram estruturados em vários países. Caracterizam-se por financiamento público, não terem o lucro como finalidade e contarem com salvaguardas para reduzir interferências do poder econômico do mercado e de ingerências dos governos: na Inglaterra, a BBC; no Japão, a NHK; nos Estados Unidos, as emissoras do sistema PBS; na Alemanha, os sistemas ZDF, ARD e a Deustche Welle (DW). Já o Brasil – apesar do princípio constitucional de complementaridade entre os sistemas privado, público e estatal de radiodifusão – mantém um dos ecossistemas comunicacionais mais desequilibrados do mundo. Continue lendo A fragilidade da comunicação pública no Brasil e sua relação com uma democracia nunca consolidada

Democracia iliberal: de Hungria e Rússia a Europa e América

Por Douglas Oliveira Donin

[foto: Victor Orbán, primeiro ministro da Hungria]

A democracia, mais do que um conceito acabado, é uma ideia em permanente mutação e perpétuo movimento, ora avançando, ora recuando, sujeita às apreciações de cada geração e momento histórico sobre a dinâmica da constituição do poder e o sentido, função e papel do Estado frente aos cidadãos. Contemporaneamente, a democracia atinge sua expressão máxima, seu mais amplo alcance, no conceito conhecido como Estado democrático de direito, expressamente adotado pela Constituição Federal de 1988, logo em seu artigo 1º. Continue lendo Democracia iliberal: de Hungria e Rússia a Europa e América

Bolsonaro e a TV

Por Matheus Pichonelli

O resultado final da eleição pode sugerir que a campanha de 2018 sepultou alguns dos pilares que historicamente balizam as decisões políticas no país. A começar pelo poder da televisão e da chamada mídia tradicional. Mas não é bem assim. Continue lendo Bolsonaro e a TV

Mentiras lucrativas: modelos de negócio da web exploram radicalismos e ameaçam democracias

Por Rafael Evangelista

A má informação é mais popular, mais sensacional, gera mais cliques, mais reações emocionais, entretenimento e engajamento do que a informação verdadeira. E a reação das plataformas, até mesmo por esses motivos, tem sido estruturalmente agnóstica, ou seja, de incorporação do desvio como se fosse parte da normalidade. A má informação se tornou um negócio, tanto do ponto de vista político quanto do ponto de vista financeiro. A frase “não é bug, é feature” se aplica muito bem aqui, porque a má informação é incorporada e usufrui do sistema de recompensas hoje instituído. Continue lendo Mentiras lucrativas: modelos de negócio da web exploram radicalismos e ameaçam democracias

José Paulo Florenzano: “Chegou a hora de reconhecer que a riqueza do futebol brasileiro, a sua inventividade, também se dá no campo político”.

Por Samuel Ribeiro dos Santos Neto

O que democracia tem a ver com futebol? Quem responde é José Paulo Florenzano, professor do Departamento de Antropologia da PUC São Paulo e pesquisador do futebol. Em sua carreira, navegou entre a antropologia urbana, a sociologia do esporte e a história política para entender melhor o futebol na cultura nacional. Escreveu o livro A democracia corinthiana: práticas de liberdade no futebol brasileiro, fruto de quase uma década de trabalho. Continue lendo José Paulo Florenzano: “Chegou a hora de reconhecer que a riqueza do futebol brasileiro, a sua inventividade, também se dá no campo político”.

‘Como as democracias morrem’: um novo jeito de implantar ditaduras no século XXI

Por Bianca Bosso

“Surgira uma séria disputa entre o cavalo e o javali; então, o cavalo foi a um caçador e pediu ajuda para se vingar. O caçador concordou, mas disse: ‘Se deseja derrotar o javali, você deve permitir que eu ponha esta peça de ferro entre as suas mandíbulas, para que possa guiá-lo com estas rédeas, e que coloque esta sela nas suas costas, para que possa me manter firme enquanto seguimos o inimigo’. O cavalo aceitou as condições e o caçador logo o selou e bridou. Assim, com a ajuda do caçador, o cavalo logo venceu o javali, e então disse: ‘Agora, desça e retire essas coisas da minha boca e das minhas costas’. ‘Não tão rápido, amigo’, disse o caçador. ‘Eu o tenho sob minhas rédeas e esporas, e por enquanto prefiro mantê-lo assim.’

O javali, o cavalo e o caçador” Fábulas de Esopo Continue lendo ‘Como as democracias morrem’: um novo jeito de implantar ditaduras no século XXI

Falta de confiança na democracia enfraquece instituições brasileiras

Por Maria Clara Ferreira Guimarães e Matheus Antonino Vaz

Pesquisa divulgada pelo Barômetro das Américas (Lapop), vinculado à Universidade Vanderbilt, nos Estados Unidos, em junho deste ano, apontou que 58% da população brasileira está insatisfeita com o funcionamento da democracia no país. O mesmo levantamento revelou que 79% dos entrevistados acreditam que a maioria dos políticos é corrupta e 38% acham que o presidente pode dissolver o STF (Superior Tribunal Federal) e governar sem ele – em 2012, este número era de apenas 13%. A pesquisa foi conduzida entre janeiro e março deste ano e entrevistou 1498 brasileiros, em parceria com a FGV (Fundação Getúlio Vargas) e com o Ibope. Continue lendo Falta de confiança na democracia enfraquece instituições brasileiras

Letícia Cesarino: “Todo populista bem-sucedido hoje precisa ser também um bom influenciador digital”

Por Maria Clara Ferreira Guimarães e Matheus Antonino Vaz

A eleição de Jair Bolsonaro inaugurou o populismo digital no Brasil, segundo a antropóloga Letícia Cesarino. A atuação da rede bolsonarista nas plataformas digitais, em especial no WhatsApp, tem sido acompanhada pela pesquisadora, que comenta os desdobramentos desse processo para a ComCiência. Continue lendo Letícia Cesarino: “Todo populista bem-sucedido hoje precisa ser também um bom influenciador digital”

A crise global do conservadorismo

The Economist, 4 de julho de 2019

A direita de hoje não é uma evolução do conservadorismo, mas um repúdio a ele. O filósofo Michael Oakeshott o definiu perfeitamente: “Ser conservador… é preferir o que é familiar ao desconhecido, preferir o já tentado ao nunca tentado, o fato ao mistério, o real ao possível, o limitado ao ilimitado, o próximo ao distante.” No melhor caso, o conservadorismo pode ser uma influência estabilizadora. É razoável e sábio; valoriza a competência; não está com pressa. Esses dias acabaram. A direita de hoje está em chamas e é perigosa. Continue lendo A crise global do conservadorismo