Arquivo da categoria: artigo

Uma consciência 3.0 para as redações

Por Rogério Christofoletti

Tão logo passou o furacão, decidimos sair de nossos abrigos para observar os estragos. A internet, redes sociais, smartphones e tudo ao seu redor tinham varrido nossas certezas preservadas há décadas nas redações. A partir disso, sabemos todos, o jornalismo não foi mais o mesmo porque perdeu a primazia de informar, porque uma horda de amadores ocupou largos territórios e porque a economia da gratuidade chacoalhou (e fez despencar) muitos negócios na área. Continue lendo Uma consciência 3.0 para as redações

Política como religião: ciberdemocracia & intolerância nas novas mídias

Por João Angelo Fantini

A recente eleição de Donald Trump para presidente acendeu o alerta no mundo todo sobre a possibilidade de podermos ter algum tipo autoritário, fascista ou qualquer tipo de maluco na presidência de uma grande nação dotada de armas nucleares. A descrença no fato de que a democracia deveria nos defender contra um tipo de governo que julgávamos relegado ao passado, tem gerado uma série de discussões, desde as mais bizarras e paranoicas, até outras rebuscadas e acadêmicas, questionando a validade das formas democráticas de voto. Continue lendo Política como religião: ciberdemocracia & intolerância nas novas mídias

Algumas considerações acerca do trabalho de campo numa pesquisa sobre o poliamor no Brasil

Por Antonio Cerdeira Pilão

Este artigo apresenta algumas reflexões sobre a pesquisa de campo realizada no mestrado e no doutorado entre 2011 e 2017 no Programa de Pós Graduação em Sociologia e Antropologia (PPGSA) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

O termo poliamor, criado nos anos 1990 nos Estados Unidos[1], refere-se à possibilidade de estabelecer múltiplas relações afetivo-sexuais de forma concomitante, consensual e igualitária. É possível classificar três modelos básicos de relação poliamorista que se dividem em “abertas” e “fechadas”. Isto é, no primeiro caso, há a possibilidade de novos amores e, no segundo, temos a “polifidelidade”, ou seja, a restrição das experiências amorosas: Continue lendo Algumas considerações acerca do trabalho de campo numa pesquisa sobre o poliamor no Brasil

Toda nudez será castigada? – Tecnologia, corpo e gênero na era das mídias digitais

Por Richard Miskolci

Aplicativos como o Grindr revelam-se não apenas tecnologias comunicacionais mas também de gênero, já que erotizam o homossexual que passa por hétero incentivando que seus usuários se apresentem de forma convencional. Assim, podem ser encarados como tecnologias contemporâneas de reprodução do gay másculo.

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Nem dentro, nem fora: notas sobre a experiência prisional de estrangeiras em São Paulo

Por Bruna Bumachar

Quando entrei pela primeira vez na Penitenciária Feminina da Capital, na capital paulista, em meados de 2008, deparei-me com uma população que girava em torno de 800 presas, sendo cerca de quase metade composta por não nacionais e a outra metade por brasileiras. Lá se encontravam estrangeiras de mais de 60 nacionalidades, com perfis variados, falantes de mais de 30 línguas, mas que traziam em comum, em 76% dos casos, a maternidade, e, em 95% dos casos, o tráfico de drogas como causa do encarceramento, todas na função de mula. A maioria maciça era primária no sistema carcerário (ao menos no brasileiro), residia anteriormente em seus países de origem e não falava português, único idioma dominado pela quase totalidade de presas brasileiras e funcionários. Continue lendo Nem dentro, nem fora: notas sobre a experiência prisional de estrangeiras em São Paulo

O gênero da ciência ou sobre silêncios e temores em torno de uma epistemologia feminista

Por Larissa Pelúcio

“Elas recebem menos convites para avaliar o trabalho de seus pares. E meninas se veem como menos brilhantes desde os 6 anos”. Editoria de Ciências – El País (1)

A notícia saiu no início de 2017, trazendo dados de duas pesquisas científicas sobre o alijamento de mulheres do campo de investigações acadêmicas. A reportagem é ilustrada pela foto de divulgação do hollywoodiano Estrelas além do tempo. Naquele filme, racismo, sexismo, machismo e conservadorismo político se juntam à alta tecnologia beligerante da Guerra Fria. Nada mais representativo do mundo das ciências. O mundo que tem a razão como seu alicerce. A mesma qualidade que sustenta nossas percepções vulgares sobre o comportamento masculino. Homem => razão => civilização => branquitude => ciência => verdade. Equação que não apareceu nos infindos cálculos das protagonistas do filme, mas que definiu calculadamente o silêncio que se instituiria sobre a participação crucial daquelas mulheres na “corrida espacial”.

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Gênero, política e produção do conhecimento: ressonâncias e desafios

Por Margareth Rago

Não há dúvidas de que a entrada da categoria do gênero na academia teve um profundo impacto na maneira pela qual se produzia o conhecimento nas chamadas ciências humanas e exatas, ao mesmo tempo em que respondia aos desafios que se colocavam aos estudos feministas, com a intensidade das críticas colocadas pelo pós-estruturalismo, pela psicanálise e por outras correntes de pensamento, que apontavam os limites das formas modernas de pensar. Essas críticas contundentes, em especial a que apresentavam filósofos como Michel Foucault, Jacques Derrida, Gilles Deleuze, entre outros, recusavam o essencialismo nas interpretações correntes e questionavam a noção de verdade, de realidade objetiva, de neutralidade e de necessidade, chegando à questão do sujeito. Continue lendo Gênero, política e produção do conhecimento: ressonâncias e desafios

A popularização dos hormônios: verdades científicas ou metáforas para falar de gênero?

Por Fabíola Rohden

“São os hormônios!” “A culpa é dos hormônios!” “Os hormônios comandam tudo!”

Certamente, estamos muito acostumados/as a ler, a ouvir e mesmo a pronunciar frases como essas. E quando o fazemos, muito dificilmente está em cena um profundo conhecimento de endocrinologia ou mesmo de biologia em geral. Não são explicações pormenorizadas, específicas, precisas que vêm à tona na maioria das vezes nas quais essas afirmações categóricas são acionadas. Mas se não se trata disso, então, o que está por trás desse tipo de enunciado? Que mecanismo é esse que nos faz lançar mão de explicações que não necessariamente dominamos para dar conta de fenômenos tão variados? A ideia geral de que os hormônios explicariam quase qualquer coisa não se aplica apenas ao funcionamento do corpo humano, mas, sobretudo, tem sido associada de forma recorrente a comportamentos, preferências, emoções etc. E tem se tornado quase onipresente nas apreciações relativas a supostas diferenças existentes entre os gêneros (Rohden e Alzuguir, 2016).

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