Arquivo da categoria: resenha

O som e o sentido, de José Miguel Wisnik

por Bruno Vaiano

Há muitas obras sobre história da música – nenhuma delas exatamente um best seller – que seguem mais ou menos o mesmo roteiro: um parágrafo sobre as primeiras flautas do registro arqueológico, um capítulo curtinho sobre os gregos, algo sobre o canto gregoriano medieval e então um calhamaço de páginas sobre os compositores canônicos europeus (e só europeus) entre Bach e Debussy, sempre devidamente enaltecidos. Esses livros – que têm em comum, além do sumário, a incapacidade de dar à maioria dos leitores algum ímpeto de virar as páginas – ignoram a história da música popular do próprio Ocidente, bem como as músicas de todos os outros povos. Continue lendo O som e o sentido, de José Miguel Wisnik

‘Museu da revolução’, de João Paulo Borges Coelho

Por Gabriela Beduschi Zanfelice

Van para os brasileiros, chapa para os moçambicanos, carrinha para os portugueses: é no interior deste veículo, especificamente de modelo Toyota Hiace, que se passa Museu da revolução (2021) de João Paulo Borges Coelho. Ou talvez seja melhor dizer que é através deste veículo que se desenrola a narrativa, uma vez que o cenário temporal e geográfico deste belíssimo romance finalista do Prêmio Oceanos 2022 se expande por fronteiras situadas muito além daquelas estabelecidas pela lataria da Hiace. Representante emblemática de uma das principais formas de transporte coletivo em Moçambique nas últimas décadas, a van é pilotada por Bandas Matsolo, um ex-guerrilheiro da guerra de libertação de Moçambique, e co-pilotada por Jei-Jei, um moçambicano apaixonado por Jazz – cujo nome constitui uma homenagem ao trombonista estadunidense J.J. Johnson e a Ricardo Rangel, falecido fotógrafo moçambicano que foi também um grande entusiasta deste gênero musical – e dono de uma inclinação imaginativa que o impele a contar (e a co-criar), junto do anônimo narrador do romance, muitas das intrigantes e complexas histórias que lemos ao longo de Museu da Revolução. Continue lendo ‘Museu da revolução’, de João Paulo Borges Coelho

Por um mundo sustentável e energeticamente inclusivo, sem emissões e omissões: Campus Sustentável Unicamp

Por Inácio de Paula

O livro Campus Sustentável: um modelo de inovação em gestão energética para a América Latina e o Caribe é uma obra que apresentam a interdisciplinaridade do conhecimento científico e a sua articulação intersetorial.

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Quem deve pagar a conta do jornalismo na internet?

Por Natália Flores

Nas últimas décadas, temos vivenciado uma avalanche no mercado jornalístico, com a migração do consumo de notícias do papel para a internet. Poucas são as pessoas que compram jornais em bancas – a maioria prefere ler notícias direto dos aplicativos do smartphone. Neste contexto, o debate sobre a relação entre jornalismo e as Big Techs vem à tona. Afinal, como sustentar um jornalismo refém das plataformas digitais? Continue lendo Quem deve pagar a conta do jornalismo na internet?

Biografia bem-feita é divulgação científica

Por Ricardo Muniz

Um dos maiores biógrafos do Brasil, Lira Neto vem à Unicamp dia 31 de maio. Jornalista e escritor que recontou a história de Getúlio Vargas e do samba, de Castello Branco e de Maysa, dará palestra sobre A arte da biografia, seu mais recente livro, no IEL. Continue lendo Biografia bem-feita é divulgação científica

‘Anatomia de um Instante’: as lições do golpe espanhol sobre o golpe brasileiro

Por Luiz Zanin

Texto publicado originalmente no jornal O Estado de S. Paulo em 18 de janeiro de 2023

Em Anatomia de um Instante, Javier Cercas examina um momento crucial da história espanhola. No dia 23 de fevereiro de 1981, um grupo militar, comandado pelo tenente Antonio Tejero, invade a câmara dos deputados e mantém os parlamentares sequestrados. O objetivo era promover um golpe e colocar o país sob tutela de um governo militar. A Espanha saíra havia apenas seis anos da ditadura franquista, que durara 40 anos. Continue lendo ‘Anatomia de um Instante’: as lições do golpe espanhol sobre o golpe brasileiro

Bit Tyrants: A economia política do Vale do Silício

Por Alexandre Costa Barbosa

Imagina-se dois garotos na garagem de uma casa no subúrbio de alguma cidade californiana tirando da cartola ideias de mudança estrutural da sociedade, criando soluções para um progresso qualitativo da humanidade. Acorda-se. Ainda no andar dos anos 2020 o mito do empreendedorismo de base tecnoló­gica “caseiro” ainda alimenta muitos imaginários de jovens, sobretudo homens heterossexuais de classe baixa, média e alta, bem como sustenta o racional dos atuais tomadores de decisão, sobretudo homens brancos heretossexuais de classe alta. Tendem a achar que as novas corporações da ou na Internet são melhores representações do “bom capitalismo”, destoando-se dos monopólios do petróleo, por exemplo. Alguns livros de economia e políticos neoliberais difundem a ideia de que o melhor vencerá a competição, uma condição da natureza humana. Na prática o que ocorre são acordos dara evitar a concorrência. Continue lendo Bit Tyrants: A economia política do Vale do Silício

‘Sangue Negro’, uma tragédia de cobiça, petróleo e ódio

Por Luiz Zanin Oricchio

Ok, Sangue Negro, de Paul Thomas Anderson, não é uma obra-prima. Não marca um paradigma e nem revoluciona a linguagem do cinema. No entanto, é um belo e grande filme. Um épico trágico sobre a fase heroica da prospecção de petróleo nos Estados Unidos. Um drama, às vezes barroco, no entanto baseado no romance realista de Upton Sinclair, chamado simplesmente Oil!. Continue lendo ‘Sangue Negro’, uma tragédia de cobiça, petróleo e ódio