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Dossiê Eleições & Democracia

Salvar a democracia exige reformas fiscais profundas

Por David Deccache

A crise da democracia coincide com a ampliação acelerada das desigualdades de renda e riqueza, que têm aumentado em quase todos os lugares desde a década de 1980. Não custa lembrar que a década de 1980 é o período que concretizou uma espécie de revolução antikeynesiana, uma reação teórica e política contra o Estado intervencionista e de bem-estar social que marcou a idade de ouro do capitalismo (1945-1973). A recente onda de autoritarismo que observamos no mundo não é mera coincidência: trata-se da manifestação política do esgarçamento do nosso tecido social. Ou encaramos o desafio das reformas ou teremos que lidar com riscos crescentes de rupturas institucionais e democráticas. Continue lendo Salvar a democracia exige reformas fiscais profundas

Democracia: muito além de eleições

Por Luis Felipe Miguel

Nós nos acostumamos a julgar que democracia e eleições caminham sempre juntas. Onde há eleição, haveria democracia; promover a democracia seria expandir o processo eleitoral. Por isso, quando surgem determinados resultados eleitorais, nós quase desanimamos da democracia. Como é possível que tanta gente apoie quem debocha do sofrimento que causa? Democracia e eleições caminham juntas, sim, mas mantêm uma relação tensa e contraditória. Limitar a democracia ao processo eleitoral é desfigurar o ideal democrático – e, ao mesmo tempo, reduzir a qualidade potencial do voto. Continue lendo Democracia: muito além de eleições

Ciência e democracia, proposta para uma conversa

Por Peter Schulz

Esse pequeno ensaio propõe uma costura, incompleta e imperfeita, de ideias que talvez aticem algum debate sobre essa questão, que é cíclica desde o fim da última guerra mundial: ora a ciência é atacada e se manifesta, ora a ciência é deixada em paz e se cala. Esse pêndulo encerra uma importante ambiguidade. Continue lendo Ciência e democracia, proposta para uma conversa

Democracia e eleições: o cinismo econômico no poder

Por Ladislau Dowbor

Com a Lei Kandir, de 1996, que isenta de impostos quem produz para exportação, temos um país que na última safra de grãos colheu o equivalente a 3,7 quilos por pessoa por dia, mas que tem 33 milhões de pessoas com fome, e 125 milhões em insegurança alimentar. Continue lendo Democracia e eleições: o cinismo econômico no poder

Jung Mo Sung: ‘Lógica que gerou avanço evangélico é a mesma que leva a seu caráter autoritário’

Por Ricardo Whiteman Muniz

Com a chamada Teologia da Prosperidade, ocorre uma profunda inversão na compreensão cristã sobre dinheiro e ostentação. “Agora pobre não é mais objeto de cuidado, mas visto como amaldiçoado por Deus”, diz professor da pós-graduação em ciências da religião da Universidade Metodista de São Paulo. “O sistema já existia antes de Bolsonaro e vai existir depois. Esse tempo de Bolsonaro é o ápice de uma mentalidade que tem uma certa coerência, mesmo que eticamente errada.” Continue lendo Jung Mo Sung: ‘Lógica que gerou avanço evangélico é a mesma que leva a seu caráter autoritário’

Engenharia eleitoral alternativa e a proteção da democracia contra a ditadura da maioria

Por Douglas Oliveira Donin

Um dos temas mais frutíferos referentes à análise dos processos de escolha democrática se refere à dicotomia entre os valores protegidos pelo princípio democrático e os resultados obtidos pela simples aplicação do chamado “princípio majoritário” – que, historicamente, vem acompanhando as democracias ao ponto de ser com elas confundido pelo cidadão que pouca reflexão dedica ao assunto. De fato, para a maioria dos cidadãos, distantes em corpo e alma das camadas decisórias da política, a democracia é vivida materialmente em duas ocasiões: na igualdade das filas de espera, o mais mundano dos institutos democráticos, e na eleição periódica, onde o candidato que empilha mais votos que os concorrentes ganha um tipo de cheque em branco pelos próximos anos – afinal, a “maioria é que manda”, como geralmente aceita o vencido resignado, antes de retornar sua atenção a assuntos individuais mais imediatos (ou festeja o vencedor, antes de iniciar um verdadeiro atropelo das vontades ou até direitos dos vencidos). Continue lendo Engenharia eleitoral alternativa e a proteção da democracia contra a ditadura da maioria

Universidade pública, ciência, democracia e sua reconstrução

Por Soraya Smaili

Ultimamente temos ouvido a frase “tempos difíceis”. Certamente difíceis, especialmente para a Universidade Pública Brasileira. Já vivemos períodos complexos e outros muito duros. Os tempos da Ditadura Militar não podem ser esquecidos. Lembramos das perseguições aos estudantes que se levantaram contra a repressão, dos desaparecidos e dos torturados. Lembramos dos inúmeros professores que foram injustamente retirados de seus cargos, como demonstrado no livro do Controle Ideológico na USP. A Comissão da Verdade da Unifesp mostrou que o Diretor da Escola Paulista de Medicina, à época reitor da temporária Universidade Federal de São Paulo (UFSP), que a ditadura desfez, foi destituído de seu mandato com perda do cargo público. Continue lendo Universidade pública, ciência, democracia e sua reconstrução

Eleição e tradição

Por Laurindo Lalo Leal Filho

O Brasil que saiu das urnas no primeiro turno das eleições deste ano mostra, na prática, o enraizamento do tradicionalismo em amplas camadas da sociedade e, ao mesmo tempo o seu afloramento político institucional. Continue lendo Eleição e tradição

O mito da elite oprimida

Por Carlos Orsi

O elitista oprimido é o incel do mundo sócio-político-intelectual. O profeta seminal da raça foi, provavelmente, o filósofo reacionário francês Joseph de Maistre (1753-1821), que deixou copiosa obra onde afirma (e reafirma) sua inconformidade com a perda de poder e prestígio da aristocracia hereditária na Revolução Francesa, para ele uma abominação de proporções cósmicas. Continue lendo O mito da elite oprimida